Título: Usinas querem R$ 3 bi para estocar álcool na entressafra
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Fonte: Gazeta Mercantil, 04/03/2009, Brasil, p. B9
São Paulo, 4 de Março de 2009 - Depois de o álcool ter recuado 13% em fevereiro, em plena entressafra, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) apertou o cerco a um pleito antigo de buscar financiamento oficial para as usinas estocarem etanol e só vendê-lo na entressafra. A entidade quer que o governo destine uma linha de cerca de R$ 3 bilhões para financiar armazenagem de cerca de 4,5 bilhões de litros. "A proposta é que o tanque com o estoque financiado seja lacrado e liberado para venda apenas na entressafra", explica Marcos Jank, presidente da Unica.
O produtor receberia do banco financiador um valor pré-estabelecido por litro estocado - que foi proposto em R$ 0,70 pela Unica. Teria que bancar por conta própria uma parte adicional do volume financiado que, deve ser de meio litro, a cada um litro financiado. Se o governo liberar recursos para estocar 4,5 bilhões de litros, isso significará um estoque de 6,75 bilhões de litros.
Uma das alternativas possíveis de financiamento, segundo Jank, é via Programa Especial de Crédito (PEC), destinado a capital de giro. Ele passou por algumas alterações e apresenta condições mais favoráveis de empréstimo, como o dobro do prazo de carência e o triplo do prazo de pagamento da versão anterior, na avaliação de Jank. "Será preciso que o governo defina qual a fonte de recursos dessa operação e a equalização das taxas de juros", afirma Jank.Teoricamente, os estoques de combustíveis deveriam ser financiados com recursos da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), cuja continuidade ainda está em discussão. Nas safras 2003 e 2004 o governo liberou, por ano, R$ 500 milhões para financiar os estoques das usinas. "Mas em um desses anos o recurso chegou atrasado e também houve dificuldade para os empresários conseguirem acessar o crédito, pois apenas o Banco do Brasil estava autorizado a emprestar o recurso e muitas usinas estavam inadimplentes com a instituição", recorda Antônio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da Unica.
A proposta agora é que haja mais capilaridade na distribuição desse recurso, segundo Jank, ou seja, que esteja disponível a outros bancos. O presidente da Unica argumenta que trazer mais equilíbrio aos preços do álcool vai evitar que as usinas sejam desestimuladas a produzir álcool e concentrem a produção no açúcar, com prejuízo para os preços da commodity no mercado internacional.
No entanto, a própria Unica admite que por conta de um maior número de usinas novas projetadas apenas para produção de álcool há limitações para expansão em açúcar. Na última safra, o mix da região Centro Sul do Brasil foi de destinação de 39,6% da cana-de-açúcar para produção de açúcar e, 60,4% para a de álcool. "Esse mix não vai passar de 43% para açúcar na próxima safra", avalia Pádua. Esse cenário só vai mudar, segundo o diretor-técnico, se os preços do açúcar se mantiverem em alta por um período mais longo de tempo e voltar a estimular investimentos do setor em aumentar capacidade de produção do adoçante.
Ethanol Summit
Também ontem, a Unica lançou oficialmente a realização da 2ª edição do Ethanol Summit, evento bienal criado para debater as questões relevantes do setor sucroenergético. O evento está marcado para os dias 1, 2 e 3 de junho, em São Paulo.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 9)(Fabiana Batista)