Título: Bolsas disparam à espera de pacote chinês
Autor: Pinheiro,Vinícius ; Costa, Déborah
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/03/2009, Finanças, p. B2

5 de Março de 2009 - A expectativa do anúncio de um novo pacote de estímulo à economia na China impulsionou as bolsas de valores ao redor do mundo, apenas dois dias depois do pessimismo generalizado provocado pelo prejuízo monumental e do novo resgate da seguradora AIG pelo governo norte-americano. No mercado brasileiro, o Ibovespa fechou em alta de 5,31%, aos 38.402 pontos, com giro financeiro de R$ 4,72 bilhões, e o dólar comercial encerrou o dia negociado a R$ 2,371, em baixa de 1,66%.

O desempenho foi puxado pelas ações das produtoras de commodities metálicas, entre elas a Vale, que disparou cerca de 10% com a expectativa de que o plano impulsione a demanda por matérias-primas. A empresa informou que prevê embarcar um total de 50 milhões de toneladas de minério de ferro no primeiro trimestre deste ano, dos quais 30 milhões de toneladas apenas para o gigante asiático. "Se confirmado, o pacote estimulará um consumo ainda maior de minério", afirma o analista Pedro Galdi, da SLW Corretora.

A expectativa com relação à China foi despertada pelas declarações do ex-presidente do departamento de estatísticas do país, Li Deshui. Ele afirmou que, em seu pronunciamento anual, que estava previsto para esta madrugada durante a reunião anual do Congresso Nacional do Povo, o premiê da China, Wen Jiabao, anunciará um pacote de estímulo à economia adicional aos US$ 585 bilhões que já começaram a ser implementados.

A China deve aumentar os investimentos públicos, além de aplicar recursos na ampliação da rede de proteção social na tentativa de manter a estabilidade econômica. "O plano de estímulo chinês é benéfico para o Brasil em termos de exportação e também porque impulsiona a bolsa no curto prazo, uma vez que grande parte dos papéis são ligados a commodities", afirma Nicholas Barbarisi, sócio e diretor de operações da Hera Investment.

Em meio a esta notícia, os preços das matérias-primas avançaram no mercado internacional, como por exemplo o barril de petróleo de Nova York, que fechou a sessão com valorização de 8,7%, cotado a R$ 45,29. As ações preferenciais (PN) da Petrobras pegaram carona na valorização e subiram 6,33%. Ainda com relação à China, a ligeira melhora da atividade manufatureira em fevereiro também foi bem recebida, apesar de ainda estar em níveis que indicam contração. O PMI (índice de atividade de gerentes de compras) ficou em 49 pontos no mês passado contra 45,3 em janeiro.

Com a novidade chinesa, os investidores acabaram dando pouca importância aos indicadores ruins nos Estados Unidos. O Livro Bege, relatório elaborado pelos doze escritórios regionais do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), sinalizou que a economia do país só deverá mostrar melhorias no final deste ano ou início de 2010. O documento mostrou também que "as condições da atividade econômica global se enfraqueceram ainda mais na maior parte dos distritos, com exceção de Filadélfia e Chicago, desde a divulgação do último documento, em 14 de janeiro". O índice que mede a atividade não-manufatureira nos EUA deu suporte ao documento do Fed ao mostrar mais um mês de contração, para 41,6 pontos, conforme informações do Institute for Supply Management.

Além do plano chinês, a queda do dólar em relação ao real foi estimulada pela informação de que o fluxo cambial fechou o mês passado positivo em US$ 841 milhões. No ano, porém, o saldo entre entradas e saídas de recursos estrangeiros está deficitário em US$ 2,177 bilhões.

No mercado de juros, as projeções fecharam em queda no curto prazo e leve alta nos prazos mais longos. O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) de janeiro projetou juro de 10,67% para a virada do ano, contra 10,69% do último ajuste, enquanto o DI de janeiro de 2012 subiu de 11,29% para 11,35% ao ano.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 2)(Vinícius Pinheiro e Déborah Costa/InvestNews)