Título: Indústria cobra redução da Selic
Autor: Americano, Ana Cecília
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/03/2009, Brasil, p. A8

São Paulo, 11 de Março de 2009 - O resultado do Produto Interno Bruto do País, revelado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de menos 3,6% no último trimestre de 2008 e de menos 7,4% na Indústria, o maior recuo desde o quarto trimestre de 1996 (-7,9%), foi recebido pelas entidades da indústria como o argumento final de que seus representantes precisavam para cobrar maior empenho do governo para mitigar os efeitos da crise.

"Vemos esses números sem surpresa", comentou Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). "Já sabíamos que o baque seria violento", fez coro Rogério Cesar Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).

Crédito a quem precisa

Para Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), é crucial aproveitar o espaço que existe na política monetária e promover, no curto prazo, reduções de juros mais intensas. "Esse é o comportamento comum a todas as economias mundiais, nas quais o risco de recessão é muito superior ao risco de inflação", argumentou o dirigente. Seu gerente executivo de política econômica, Flavio Castelo Branco, acrescentou, ainda, a importância de se fazer chegar o crédito a quem precisa. "O governo, de fato, capitalizou o BNDES com R$ 100 bilhões, mas, na prática, há uma dificuldade de acesso a esses recursos, já que nem sempre os bancos operadores têm o interesse de repassar os recursos", cobrou.

Da Fiesp, Francini, que acredita que este trimestre o PIB poderá variar entre menos 1% a 1%, o momento pede "a reza de muitos terços". Segundo ele, a autoridade monetária deixou de tomar uma iniciativa de baixar as taxas do Copom de forma mais vigorosa. Segundo o economista, a variável da política monetária deve ser utilizada o quanto antes. "Uma redução drástica da taxa de juros não seria sequer pioneirismo. O Chile reduziu a sua em 3,5 pp, o que representou uma queda de 40%, em apenas dois meses", ressaltou.

Passividade do BC

No IEDI, a percepção é de que, na prática, a queda no PIB foi puxada pela indústria. "Isso torna claro como o setor acusou o golpe da crise internacional de forma imediata", afirmou Souza. Da instituição também partiram duras críticas à política monetária brasileira. Em nota divulgada pelo IEDI, o instituto acusa o Banco Central de ter assistido "passivamente a crise chegar, instalar-se e contaminar a economia industrial ao longo de todo o último trimestre de 2008, para só agir em janeiro do corrente ano e ainda assim timidamente."

De acordo com o economista da casa, preocupa, ainda, a queda no consumo das famílias, apontada pelo IBGE, de 2%. "Até setembro, o consumo das famílias era o braço forte da demanda", lembra ele. Para Souza, se no passado acreditava-se que a crise só afetaria a indústria, os dados atuais apontam para futuros desdobramentos negativos no curto prazo. "A indústria é uma forte compradora de insumos da agricultura e dos serviços", lembra. "Nesse ritmo, é inevitável que, na entrada de 2009, esses segmentos possam vir a ser mais duramente afetados", acrescenta.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(Ana Cecília Americano)