Título: Mercado interno forte definirá a retomada
Autor: Aliski,Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/03/2009, Brasil, p. A10

Brasília, 12 de Março de 2009 - O Brasil terá de aguardar um pouco mais para se recuperar da crise. A previsão é de Marcelo Audi, estrategista da Santander Corretora. Ele disse que, se antes havia certeza de uma crise em formato do "V" (rápida queda e rápida retomada), agora a crise brasileira começa a se configurar em formato de "U" (com maior demora dentro do cenário restritivo, para depois haver recuperação da economia). O certo é que a crise não vai acabar em 2009, surtindo efeitos durante 2010, alertou, ainda, o economista-chefe do Santander e ex-diretor do Banco Central, Alexandre Schwartsman.

Mesmo antes de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar uma retração de 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB) no último trimestre do ano passado, o Santander já tinha previsões sombrias para o País. A estimativa de crescimento do PIB para 2009 era de 1%, câmbio de R$ 2,60 por dólar no final do período e evolução do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 6% (portanto 1,5 ponto percentual acima da meta do governo, que é de 4,5%). Os executivos do Santander já previam um corte de 1,5 ponto percentual na Selic, confirmado ontem na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Schwartsman não vê espaço para descuidar do tratamento dado à inflação, pois, nesse caso, calcula que será inevitável repassar aos preços finais os impactos de uma desvalorização cambial de cerca de 50%.

Segundo Audi, nem mesmo o corte dos juros deve promover uma imediata migração de aplicações financeiras, que atualmente estão referenciadas em ativos mais tradicionais - títulos públicos e CDBs - de volta para o mercado de ações. "O investidor está muito machucado, vai demorar um pouco para buscar aplicações que representem risco", disse. Ainda assim, Audi destacou que 60% do PIB brasileiro está ligado ao consumo interno e 15% às exportações. "Na Coréia, por exemplo, 60% do PIB é vinculado às vendas externas", destacou. A robustez do mercado interno brasileiro é, portanto, fator que traz certezas quanto à retomada do crescimento da economia do País, destacam os executivos do Santander.

Schwartsman, por sua vez, ressaltou que já passou da hora de promover a nacionalização de bancos nos Estados Unidos, epicentro da crise financeira. Ou seja, disse que é necessário estatizar bancos nos Estados Unidos. Segundo o economista-chefe do Santander, a indefinição sobre a ajuda oficial a bancos no mercado norte-americano atrapalha no processo de recuperação dos efeitos da crise financeira. "Lá, o colapso do crédito passa pela nacionalização de bancos, semelhante ao Proer", citou. O Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional) foi colocado em prática nos anos 90, enxugando do mercado brasileiro bancos que apresentavam risco sistêmico. A ideia, na época, foi sanear instituições com problemas, evitando um contágio geral dos bancos.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 10)(Ayr Aliski)