Título: Situação britânica causa temor de que o país recorra ao FMI
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Fonte: Gazeta Mercantil, 15/04/2009, Internacional, p. A11

15 de Abril de 2009 - Até o momento, os investidores estavam dispostos a custear a dívida da Grã-Bretanha a taxas de juros relativamente baixas, ao contrário de países como a Hungria e a Letônia, cujas reservas foram reduzidas, e precisaram recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) a fim de obter ajuda. No mês passado um leilão de títulos do governo britânico realizado em Londres e que não obteve sucesso, causou uma certa apreensão, mas em seguida as vendas de dívida foram bem-sucedidas.

Isso poderá mudar, segundo disse Simon Johnson, ex-principal economista do FMI, caso os que detêm no momento os ativos britânicos percam a confiança na capacidade do governo de pagar suas dívidas, e comecem, em grandes levas, a abandonar a libra do mesmo modo como fizeram em 1976.

Contrastando com alguns de seus parceiros europeus problemáticos como Irlanda, Espanha e Grécia, a Grã-Bretanha não adotou o euro e, portanto, está mais propensa a enfrentar uma corrida em relação à sua moeda. Se a situação se agravar, voltar-se para o fundo internacional poderá ser a melhor alternativa, disse Johnson.

"Quando se tem um problema orçamentário e outro bancário, em síntese é preciso fazer ajustes", explicou. "E um empréstimo do FMI poderá facilitar a vida da Grã-Bretanha, não dificultá-la. Talvez precisem fazer isso."

As ideias de Johnson são decididamente da minoria aqui, e até ele analisa como remota a possibilidade do Reino Unido enfrentar tal situação.

Mesmo assim, Johnson e o financista George Soros, que captou US$ 1 bilhão apostando contra a libra em 1992, e que também alertou sobre a possibilidade de uma ajuda do fundo monetário, atraíram muita atenção.

Seus pontos de vista assinalaram um medo crescente de que a Grã-Bretanha, como alguns outros países que gastaram e tomaram muito dinheiro emprestado no exterior, possa ser afetada por uma conta que terá problemas em saldar. A Irlanda tem um déficit de 10% do PIB, e um sistema bancário nas piores condições. A Grécia detém o maior déficit de conta corrente na Europa de 12% do PIB. Entretanto a Grã-Bretanha é o único país com sua própria moeda a defender.

Os britânicos desdenham da idéia de que poderiam precisar de ajuda do FMI. Na reunião do G20 duas semanas atrás, o primeiro ministro Gordon Brown disse que o governo trabalhista não tinha planos para buscar tal assistência.

O acordo de 1976 com fundo o monetário não foi visto somente como um constrangimento nacional, permaneceu um símbolo de um país que, sob vários governos trabalhistas, efetivamente perdeu o controle da economia para sindicatos militantes, resultando em dívidas crescentes e amplas paralisações no trabalho, que desestruturaram o Grã-Bretanha.

Não é de se estranhar que Gordon Brown rejeitasse qualquer comparação com a Grã-Bretanha de 1976.

"Não é que a dívida de 80% do PIB seja insustentável", disse Gemma Tetlow, economista do Instituto para Estudos Fiscais, um grupo de pesquisas não-partidário. "É que sem ajustes fiscais a dívida poderia crescer indefinidamente para 100% e ir além. E a evidência sugere que quanto maior sua dívida", ela acrescentou, "mais aumentam os custos para um empréstimo".

Conforme a lição da crise da Grã-Bretanha de 1976 demonstra, boas intenções por si só não são suficientes para compensar a perda de confiança do investidor internacional.

Antes do acordo de 1976, o governo trabalhista do primeiro ministro James Callaghan já havia tomado medidas difíceis para reduzir os salários públicos e diminuir o déficit, que em 5% do PIB eram cerca da metade do que é o gap atual da Grã-Bretanha. Mas para os investidores estrangeiros, cansados de anos de excesso do governo, isso não foi suficiente e eles se desfizeram de seus títulos em libras, começando a corrida pela moeda que levaria o Partido Trabalhista aos braços do fundo monetário.

Na época, Callaghan apresentou uma avaliação das finanças da Grã-Bretanha que repercute hoje.

"Temos vivido além do limite", disse ele. "Pensávamos que se poderia sair da recessão e aumentar o emprego reduzindo impostos e aumentando os gastos do governo. Digo a vocês com toda sinceridade que essa opção não existe mais".

Espera-se que o governo de Brown apresente no fim deste mês um orçamento austero para evitar recorrer ao FMI como fez Callaghan.

"Isso destruiria o Partido Trabalhista", disse Burk, o historiador. "Isso significa uma coisa se você for a Hungria ou a Zâmbia. Mas a idéia de que o Reino Unido está tão fraco que não consegue se sustentar sem ir ao FMI abalaria o sistema.

NYT

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 11)(NYT)