Título: Crise, G20 e Doha na pauta do encontro de Lula com Obama
Autor: Aliski,Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/03/2009, Internacional, p. A17
Brasília, 12 de Março de 2009 - Crise financeira, protecionismo e derrubada das barreiras comerciais norte-americanas ao etanol brasileiro são alguns dos temas que serão levados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para reunião com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que ocorre em Washington no próximo sábado, 14 de março.
A agenda da visita foi tema de entrevista concedida ontem pelo ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim. Ele disse que o momento possibilita o estreitamento das relações entre os dois países, fazendo alusões aos discursos dos presidentes brasileiro e norte-americano quanto ao uso de termos como "mudança" e "esperança". "Há uma afinidade inclusive de pensamento", disse Amorim.
O chanceler brasileiro garantiu que serão discutidos no encontro "remédios para a crise". Ao comentar quais seriam os instrumentos para amenizar os efeitos da turbulência econômica, Amorim falou sobre a necessidade de aumentar o crédito disponível. "Um aspecto que é importante é que os próprios Estados Unidos e Reino Unido estão pensando em fazer uma proposta conjunta com relação a financiamento a comércio. Isso foi uma proposta que o Brasil fez, lá atrás, na reunião do G20. Esse tipo de remédio é muito importante", afirmou. A cúpula do G20 acontecerá no próximo dia 2 de abril em Londres.
O chanceler citou a possibilidade de aumentar e facilitar o crédito disponível para o comércio entre países em desenvolvimento. "Esses países não enfrentam queda de demanda, mas problema de crédito", disse. Defendeu também a conclusão da Rodada Doha, de negociações para a liberalização do comércio global iniciada em 2001 no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) e que vem sofrendo várias interrupções ao longo desses quase oito anos.
Embora tenha dito que Lula não viaja aos Estados Unidos com a pretensão de dar conselhos a Barack Obama, Amorim citou que o marco regulatório do sistema financeiro brasileiro pode servir como exemplo para a retomada da estabilidade bancária global. "Muito do que está sendo recomendado para que se faça no sistema financeiro dos países ricos é o que se faz no sistema financeiro brasileiro. Pode servir de inspiração, em termos de controle, em termos de relação entre depósitos e encaixe obrigatório no Banco Central, que fizeram com que no Brasil não houvesse uma crise bancária", disse.
Amorim lembrou que há economistas nos Estados Unidos que defendem a estatização de bancos, mesmo que temporariamente. "A confiança do consumidor virá quando ele perceber que as instituições financeiras estiverem se comportando sob regras adequadas e não de acordo com uma liberdade que não é liberdade, mas total liberalidade, uma anomamia", declarou.
Outro tema que obrigatoriamente entrará nas discussões é Cuba, disse Amorim. O ministro brasileiro disse que a relação dos Estados Unidos com Cuba é "anômala" na comparação da forma de tratamento dos outros países da região. "Cuba é muito simbólica sobre como se respeita a diversidade", disse Amorim. O ministro disse que Lula poderá exercer posição de embaixador da Venezuela e da Bolívia perante Obama. "Claro que é possível. O presidente Chávez disse que tem toda a confiança no que o presidente Lula vier a dizer. Isso é um endosso", disse.
Amorim destacou que Brasil e Estados Unidos têm preocupações em comum nas áreas de energia e de meio ambiente. Dentro desse cenário, o ministro informou que "o tema etanol poderá ser tratado", admitindo que poderá entrar em pauta o pedido de "eliminação das barreiras".
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 17)(Ayr Aliski)