Título: Selic tem maior corte em mais de cinco anos, para 11,25%
Autor: Carvalho,Jiane
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/03/2009, Finanças, p. B1
São Paulo, 12 de Março de 2009 - O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), promoveu ontem o maior corte em pontos percentuais na Selic em mais de cinco anos. Na reunião do colegiado, o juro foi reduzido em 1,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano. A última redução dessa magnitude havia sido feita em novembro de 2003, de 19% para 17,5% ao ano. A decisão foi unânime e sem viés. Em seu comunicado, o BC se limitou a dizer que "o comitê acompanhará a evolução da trajetória prospectiva para a inflação até a sua próxima reunião, levando em conta a magnitude e a rapidez do ajuste da taxa básica de juros já implementado e seus efeitos cumulativos, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária". Os juros reais brasileiros foram para 6,5% ao ano, o que mantém o Brasil na dianteira entre os países com as maiores taxas do mundo.
As expectativas da maioria das instituições financeiras, confirmadas ontem pelo Copom, foram construídas nos últimos dias após o fraco desempenho do setor industrial e também da forte queda no PIB no último trimestre de 2008. "Além da retração no PIB, informações como a queda no consumo das famílias e em setores como serviços reforçaram a necessidade de um corte mais agressivo no juro", avalia André Loes, economista-chefe do HSBC. "Se o corte fosse maior, o BC ficaria sem margem de manobra, por isso considero 150 pontos de redução o ideal."
No último trimestre de 2008, o PIB registrou queda de 3,6%, o maior recuo desde 1996. Já a produção industrial em janeiro, embora tenha se recuperado em relação a dezembro, ficou 17,2% inferior a igual período do ano passado. O diretor de política monetária do banco Itaú, Joel Bogdanski, embora visse espaço para um corte maior, de até 2 pontos percentuais, defendeu a decisão do Copom. "O risco de gerar inflação com um corte maior era baixo, mas a redução de 1,5 ponto está de bom tamanho. A política monetária vai ajudar a demanda, mas não resolverá sozinha os problemas", diz. Em janeiro, a taxa já havia sido reduzida em 1 ponto percentual.
A avaliação do tom adotado pelo BC ao comunicar a decisão, citando a necessidade "de levar em conta a magnitude e a rapidez do ajuste da taxa básica de juros já implementado e seus efeitos cumulativos", causou divergência entre analistas. Jankiel Santos, economista-chefe do BES Investimentos, vê um possível sinal de redução no passo. "Ele mudou um pouco o comunicado, reforçando a idéia de que é preciso cautela em relação aos efeitos defasados dos cortes feitos", diz Santos. "É preciso aguardar, mas é possível que na reunião de abril o Copom volte a cortar um ponto na Selic."
Roberto Padovani, estrategista-chefe do banco WestLB, considera o comunicado uma tentativa do BC de conduzir as expectativas. "Ele quer moderar, coordenar as expectativas do mercado, evitando qualquer exagero na direção de cortes maiores na taxa", diz Padovani. "Em parte, o BC cortou a Selic em 1,5 ponto para ratificar as previsões dos bancos, que já tinham se ajustado à essa redução maior." Desde a semana passada, as instituições já trabalham com a estimativa de uma Selic inferior a 10% no final do ano, o que seria inédito. "Nossa estimativa é de juro a 9,25% ao ano, mas apenas no curto prazo. Manter a taxa em um dígito depende da questão fiscal, da necessidade de financiamento do setor público, e por isso no médio prazo o movimento não se sustenta", avalia Padovani, do WestLB.
Ver também B2 e B5(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Jiane Carvalho)