Título: Nova projeção dos EUA frustra expectativa para grãos
Autor: Botelho,Gilmara
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/03/2009, Agronegócio, p. B11

São Paulo, 12 de Março de 2009 - O relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) divulgado ontem superestimou a oferta, elevou os estoques e depreciou a demanda mundial de grãos colocando fim à euforia ensaiada no dia anterior pelo mercado de commodities agrícolas. Apenas as projeções para o estoque final americano de milho foram revisadas para baixo - 2,8% menor em relação às 45,48 milhões de toneladas estimadas em fevereiro.

Contudo, a retração de 1,27 milhão de toneladas no estoque do cereal americano não foi suficiente para amenizar a alta projetada para os estoques mundiais de milho. Segundo o novo relatório do governo dos EUA, quase 8 milhões de toneladas devem sobrar estocadas. Só o mercado doméstico chinês vai deixar de consumir seis milhões de toneladas.

O Usda elevou ainda as estimativas para a produção do grão, que agora está projetada em 787,10 milhões de toneladas, ante as 786,47 milhões previstas anteriormente. A safra americana seguiu estimada em 307,39 milhões de toneladas. O Departamento Americano também manteve inalterada a projeção para a safra de milho da Argentina - em 13,5 milhões de toneladas. O Brasil também segue com as mesmas 49,5 milhões de toneladas projetadas. Já a África do Sul deve colher 12 milhões de toneladas, e não 10,5 milhões como previa o Departamento até o mês passado.

"Com exceção do milho, e ainda assim apenas o americano, o relatório é baixista", analisa Paulo Molinari, da Safras&Mercado. De acordo com Molinari, o mercado só pressificou a queda de estoque americano e o aumento do consumo para a produção de etanol, "mas em compensação descontou as estimativas de alta no estoque mundial e retração na demanda", pondera.

Os estoques mundiais de trigo também ficaram maiores, de acordo com o levantamento do Usda. Segundo análise de Élcio Bento, também da Safras&Mercado, a produção subiu 1,65 milhão de toneladas, "consolidando o recorde histórico de 684,43 milhões de toneladas para o cereal". O aumento foi verificado na Austrália, que passou de 20,15 milhões de toneladas para 21,50 milhões. O Norte da África deve colher 1,45% mais.

O "tom baixista", pontuado por Bento, é reforçado pelo aumento dos estoques finais de trigo nos Estados Unidos, que subiu de 17,84 milhões de toneladas para 19,39 milhões de toneladas. O estoque mundial está 4% maior, quase 156 milhões de toneladas. No lado do consumo, em termos globais, houve redução de 652,41 milhões de toneladas para 648,71 milhões, devido a redução do consumo esperado para ração animal, cujo recuo foi de 2,6%. "Com o petróleo mais baixo, o consumo de milho para etanol foi reduzido sobrando mais milho para ração, acirrando a competição com o trigo", completa o analista.

O relatório do Usda reduziu as estimativas para estoques finais e esmagamento de soja e elevou a projeção para as exportações americanas. Para a temporada 2008/09, a projeção é de que a produção dos Estados Unidos, maior produtor mundial da oleaginosa, fique em 80,53 milhões de toneladas, repetindo a previsão de fevereiro. O esmagamento está estimado em 44,63 milhões de toneladas. No mês passado, o esmagamento estava projetado em 44,90 milhões de toneladas. A exportação americana deve subir de 31,28 milhões de toneladas 32,25 milhões.

A previsão de preço médio do grão passou a variar entre US$ 8,85 e US$ 9,85 por bushel, segundo o novo levantamento. Em fevereiro, a estimativa era de US$ 8,75 a US$ 9,75. O Usda indicou safra mundial de soja de 223,27 milhões de toneladas, ante 224,15 milhões do relatório de fevereiro. A estimativa para a safra Argentina foi cortada de 43,8 milhões de toneladas para 43 milhões. Principais consumidores mundiais, os chineses deverão produzir 16,8 milhões e importar outras 36 milhões.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 11)(Gilmara Botelho)