Título: Indústria demite pelo quarto mês consecutivo em janeiro
Autor: Cecília,Ana
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/03/2009, Brasil, p. A12
São Paulo, 13 de Março de 2009 - Em janeiro a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes) apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmou que o ritmo de retração dos empregos da indústria brasileira está forte. Frente a dezembro, o primeiro mês de 2009 sofreu uma retração dos postos de trabalho em 1,3%. O número em si é preocupante e traz o agravante de ser a quarta queda consecutiva (na comparação mês contra mês anterior) desde outubro. Nesse período foram eliminados 3,9% dos postos do setor.
Essa mesma taxa de janeiro, negativa em 1,3%, quando comparada com janeiro 2008 também revela outro tombo: situa-se abaixo do nível de emprego do início do ano passado em 2,5%. É o pior resultado -- nesse tipo de comparação -- da série histórica do IBGE, iniciada em 2001. Para complicar, a perda de ritmo nas contrações provou-se generalizada. Em 12 dos 18 ramos pesquisados o emprego industrial esteve menor em janeiro de 2009 em comparação com janeiro de 2008. O mesmo ocorre em 13 das 14 regiões pesquisadas em todo País, a partir de uma amostra de 6 mil empresas.
A massa de pessoal assalariado na indústria, vista de outra forma -- quando o indicador de janeiro de 2009 é acumulado com os onze meses que o antecedera -- indica uma expansão do emprego industrial de 1,6%. Mas, mesmo este acumulado , quando analisado frente a série de dozes meses acumulados, é o menor desde setembro de 2007.
"O indicador de janeiro faz sentido, pois o nível de emprego está associado, com alguma defasagem, ao comportamento da produção industrial. É importante lembrar que, em dezembro, as linhas de produção estiveram muito paradas", comenta Isabella Nunes, coordenadora de pesquisas conjunturais da indústria do IBGE. Segundo ela, já em dezembro as empresas coloram o pé no freio das contratações e aguardaram até janeiro para avaliar o cenário econômico, mantendo parte de seus funcionários em férias coletivas. "Foi quando o setor industrial ajustou-se a uma nova realidade de demanda", disse. "Nos meses anteriores, apesar da desaceleração, o que se via era uma acomodação da indústria. Agora o que vemos é um recuo do emprego propriamente dito".
Segundo a economista, os segmentos industriais que reduziram o ritmo de contratação em dezembro foram exatamente aqueles que registraram recuo no emprego em janeiro: meios de transportes (-1,9%), máquinas e material eletroeletrônico e de comunicação. (-0,3%) e máquinas e equipamentos (-0,7%). Isabella explica que esses mesmos setores vinham liderando as contratações, num ritmo forte de crescimento, até setembro de 2008. "Eles estavam crescendo suas produções com absorção de mão-de-obra", recorda ela. Não mostravam taxas negativas há muito tempo. No caso de transportes, que inclui a indústria automobilística e a aeronáutica, a última queda no nível de emprego deu-se em dezembro de 2003, com menos 0,4%; no caso das máquinas e equipamentos, as demissões superaram as contratações pela última vez em novembro de 2006 em 3,3%. "Vinham, portanto, de um longo ciclo de crescimento", explica a especialista.
Os resultados do IBGE quanto às horas pagas trabalhadas diferem um pouco dos divulgados pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) por tratar a questão de forma diferente. "Nós computados as horas pagas, o que inclui o pessoal em férias coletivas, pois também estão sendo pagos. Já, a CNI centra-se apenas nas horas trabalhadas", conta Isabella. Assim, os dados do IBGE acusaram uma queda no mês frente a dezembro, de -1,8% -- aqui, também, o quarto resultado negativo a partir de outubro de 2008. O índice da folha de pagamento real acompanhou a redução dos demais indicadores. Caiu no mês 1,2%. Frente a janeiro de 2008 ainda é positivo, com aumento de 1,2% sobre o total pago em janeiro de 2008.
Para o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rogério Cesar de Souza, depois da queda de janeiro, o emprego industrial tenderá a oscilar nos próximos meses -- ora crescendo um pouco, ora caindo -- caracterizando uma fase de ajustes, com viés negativo. "Acreditamos que a recuperação só virá no segundo semestre, a não ser que o governo tome medias eficazes de investimentos, a exemplo do pacote de habitação popular que pretende anunciar", afirmou.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 12)(Ana Cecília Americano)