Título: Bolsa já sinaliza recuperação em 2009
Autor: Rosa,Silvia
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/03/2009, Finanças, p. B3

São Paulo, 16 de Março de 2009 - Seis meses após a quebra do banco Lehman Brothers, que marcou o agravamento da crise financeira internacional, o mercado acionário começa a mostrar sinais de recuperação. Após cinco meses de forte queda da bolsa brasileira, o fluxo de investimentos estrangeiros ficou positivo em fevereiro em R$ 544 milhões, trazendo ânimo aos investidores. Porém, esse movimento ainda não representa um processo de retorno: até 9 de março o saldo dos investimento estrangeiros estava negativo em R$ 1,29 bilhão no mês, acumulando retração de R$ 1,39 bilhão no ano.

Para o economista da WinTrade, home broker da Alpes Corretora, José Góes, esse otimismo deve vir acompanhado de cautela. "A volta dos estrangeiros para o Brasil deve ser gradativa, devendo continuar volátil, com alguns movimentos de realização de lucro", opina o economista, ressaltando que a ameaça de risco sistêmico no mercado financeiro foi dissolvida. Segundo ele, a bolsa já começa a sinalizar uma certa estabilização, depois que bancos como Citigroup e JP Morgan anunciaram, na semana passada, que devem registrar lucro no primeiro trimestre deste ano. O Bank of America (BofA) também reforçou o ânimo dos investidores com a declaração de que provavelmente não precisará de nova ajuda do governo.

Para Góes, a injeção de recursos no sistema financeiro - com o anúncio de dois pacotes pelo Tesouro norte-americano de US$ 700 bilhões em 2008 e mais US$ 1,5 trilhão no início deste ano - não deve ter efeito imediato no mercado de crédito. "Saímos do olho do furacão, mas as medidas de injeção de capital só devem surtir efeito a partir do segundo semestre."

O gestor de renda variável para os fundos offshore da HSBC Global Asset Management, Luiz Ribeiro, afirma que a entrada de recursos em janeiro e fevereiro foi motivada pelo anúncio do pacote de estímulo econômico chinês de US$ 585 bilhões. O plano deu fôlego extra para papéis ligados a commodities. Ele lembra que apesar do movimento de alta das bolsas na última semana, impulsionado pelo setor financeiro, a recuperação da economia vai depender do destravamento do crédito. "Apesar dos estímulos, o mercado de crédito não está funcionando. Somente com a queda dos spreads devemos ter aumento do apetite por risco", comenta.

O fluxo positivo dos investimentos externos em fevereiro também se refletiu no mercado de fundos. Depois de registrarem fluxo acumulado de US$ 795 milhões em oito semanas seguidas até fevereiro, os fundos de ações da América Latina voltaram a registrar captação negativa na primeira semana de março, segundo a EPFR Global. "Tivemos poucos resgates no ano nos fundos do HSBC voltados para a América Latina e Brics (Brasil, Rússia, Índia e China)", diz Ribeiro.

Segundo Góes, da WinTrade, os movimentos de saída, no entanto, devem ser menos intensos que os verificados após a quebra do Lehman. "Naquele momento os investidores buscaram zerar suas posições de alavancagem e se desfazer dos ativos para pagar os resgates dos fundos lá fora."

Para o responsável pela área de

pesquisa da Ágora Corretora, Marco Melo, esse fluxo positivo para a bolsa reflete, em parte, uma realocação de capital da renda fixa para a variável. "O nível de aversão ao risco ainda é muito grande e quando se olha para o fluxo financeiro, não vemos uma entrada forte de novos recursos."

Preço atrativo

Para Melo, o preço atual dos ativos brasileiros está casado com um cenário de retração econômica, porém uma piora do quadro que possa adiar a recuperação das economias desenvolvidas, esperada a partir do segundo semestre de 2010, ou mesmo uma recessão mais acentuada da economia do País podem impactar o desempenho do mercado acionário, levando o Ibovespa abaixo dos 35 mil pontos. "Os preços das ações já refletem uma previsão de queda do crescimento do PIB para este ano de até 1%."

Segundo Ribeiro, os múltiplos da bolsa brasileira ainda estão muito atrativos. Hoje o índice preço/lucro da bolsa brasileira, que estima quantos anos os acionista terão o retorno de seu investimento, está em torno de 7,5 vezes, em linha com o do México, e abaixo de outros países emergentes como China (9,5vezes), Índia (10,5 vezes), só perdendo para o da Rússia de 4 vezes.

Ribeiro destaca que a bolsa da China tem liderado a recuperação entre os países emergentes, com valorização no ano de 16,7% em dólar até a última sexta-feira, contra alta de 4,5% da bolsa brasileira. "O Brasil e a China concentram a maior exposição da carteira do nosso fundo Bric, respondendo, cada um, por 26% do portfólio."

Góes ressalta que o desempenho da bolsa brasileira vai depender do crescimento da China e seu impacto sobre o preço das commodities. Para ele o preço das commodities deve se estabilizar no atual patamar, podendo apresentar recuperação a partir do segundo semestre.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Silvia Rosa)