Título: Mudanças estruturais protegeram vagas
Autor: Vizia,Bruno De
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/03/2009, Brasil, p. A5

São Paulo, 19 de Março de 2009 - O mercado de trabalho brasileiro está mais protegido hoje por conta de duas mudanças estruturais na economia brasileira, verificadas principalmente no final da década de 1990, e intensificadas no ciclo de crescimento vivido entre 2003 e 2008. A primeira mudança foi o esgotamento do processo de ajuste de produtividade iniciado por conta da maior concorrência externa enfrentadas pelas empresas brasileiras após a abertura comercial engendrada pelo governo de Fernando Collor, no início dos anos 90. A segunda alteração estrutural foi a mudança do regime cambial, em 1999, que implicou uma maior proteção à economia, particularmente à indústria.

Estas constatações fazem do estudo parte do economista Antônio Marcos Ambrozio, da Área de Pesquisa Econômica (APE) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O estudo apontou que no intervalo entre 1995 a 1999 o crescimento econômico do País não se traduziu em uma melhoria do mercado de trabalho, e durante este período o nível de ocupação permaneceu relativamente estagnado. "A abertura comercial do início dos anos 90 expôs as empresas brasileiras a uma maior competitividade, que foram buscar ganhos de produtividade, o que não incorreu em uma melhoria do mercado de trabalho". Esse processo de ajustes, no entanto, começou a arrefecer no fim da década, e a partir do segundo semestre de 1999 há um aumento substancial no nível de ocupação.

A segunda mudança estrutural na economia, cita Ambrozio, foi a adoção do câmbio flutuante, no final da década de 90, que favoreceu a indústria, segmento que tende a formalizar mais que outras atividades. Após a alteração no regime cambial, "se alguma crise começa a afetar o balanço de pagamentos brasileiro, a tendência é que o câmbio seja desvalorizado, o que estimula a exportação e desestimula a importação, e estes dois fatores favorecem o emprego interno", explica o economista. Estas duas alterações macroeconômicas, somadas ao ciclo de crescimento econômico verificado no início deste século, protegeram, de certo modo, o mercado de trabalho brasileiro, "que sem estas medidas teria sido muito mais afetado pela crise atual".

Ambrozio aponta que esta dinâmica positiva do mercado de trabalho, verificada especialmente nos últimos anos, nos quais recordes de formalização foram batidos, foi auxiliada por outros dois fatores não auferidos pela pesquisa. O primeiro é um aumento do setor exportador na economia. "Na comparação com a década de 1990, este setor ganhou importância na produção total do país, e como este é um setor que tende a formalizar bastante, isso acabou se refletindo no mercado de trabalho", diz o economista. Outro fator que favoreceu o aumento do número de carteiras assinadas no país foi um aumento na fiscalização, por parte do Ministério do Trabalho. "Há evidências do aumento da fiscalização, que somado a um crescimento dos setores industrial e exportador, impactou fortemente na formalização verificada de 2003 a 2007", argumenta.

Brasil no mundo

Outro estudo da APE divulgado ontem também evidencia que o País aproveitou o ciclo de crescimento acelerado entre 2003 a 2008 para realizar melhorias no mercado de trabalho, algo que não se verificou nos demais países emergentes. "No período houve crescimento em todo o mundo, mas nem todos os países aproveitaram da mesma maneira, e nisto o País se destaca ", afirma Ambrozio.

O Brasil reduziu sua taxa de desemprego de 12,3% em 2003 para 9,7% em 2007, o que significa recuo de 3,3 pontos percentuais. "Apenas a Africa do Sul e a Polônia obtiveram quedas maiores no período, mas eles saíram de uma base muito alta", conclui o economista.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Bruno De Vizia)