Título: Radiação na água de Tóquio
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 24/03/2011, Mundo, p. 25

Autoridades detectam índices acima do normal na rede que abastece a capital. Usina nuclear volta a soltar fumaça

O temor de contaminação nuclear cresce a cada dia no Japão, enquanto técnicos continuam a trabalhar no resfriamento dos reatores da central atômica de Fukushima, para evitar explosões e vazamentos. As autoridades japonesas já proibiram a venda de alimentos cultivados nas regiões próximas da usina, e ontem registraram níveis acima do normal de radioatividade na rede de abastecimento de água em Tóquio. A recomendação é que a população evite produtos frescos e leite provenientes do nordeste do país e que as crianças não consumam água corrente. Para tentar acalmar os ânimos, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) garantiu que a radiação não deve afetar a saúde humana em áreas além do perímetro de 20km ao redor da usina.

Com a notícia de que os índices de radiação na água estavam duas vezes superiores ao recomendado para o consumo dos bebês, o brasileiro Osvaldo Nascimento, 41 anos, que vive há oito anos em Tóquio, ficou preocupado com o problema da contaminação. ¿Tenho três filhos, e por isso já tomamos todas as providências para evitar o consumo de água, logo depois que o governo informou que os níveis estavam muito acima do normal e podem ser prejudiciais às crianças¿, contou o professor de português. O Japão também registrou quantidades elevadas de césio e iodo radioativos na água do mar em áreas próximas a Fukushima, e reforçou a fiscalização nas amostras de peixes e frutos do mar.

O governo proibiu a venda de produtos frescos ¿ especialmente espinafre, brócolis, repolho e couve-flor ¿ provenientes da região mais atingida pelos vazamentos de radiação. Em Fukushima, foram detectado altos índices de radioatividade em 11 tipos de verduras e no leite. Apesar dos níveis anormais, os alimentos não oferecem risco imediato à saúde humana. ¿Mesmo que esses alimentos sejam consumidos de forma pontual, não há risco. Infelizmente, a situação pode se ampliar, e por isso pedimos a proibição desde agora¿, afirmou o porta-voz do governo, Yukio Edano.

Para a brasiliense Alexandra Barcat, 29 anos, que vive em Tóquio com o marido, a fiscalização do governo japonês é intensa e o acesso a comida, que nos primeiros dias após ao terromoto deixou as prateleiras de supermercado vazias, ainda é complicado. ¿Pessoalmente, não acredito que alimentos contaminados sejam comercializados, até porque as áreas mais atingidas continuam com problemas de abastecimento. A população em Tóquio não está em pânico, mas todos seguem as orientações e estão tomando seus cuidados¿, conta a estudante.

Fukushima Na usina nuclear, o processo de resfriamento dos reatores ainda não teve sucesso, apesar do trabalho dos engenheiros da operadora da central, a Tokyo Electric Power Company (Tepco). Ontem, uma nova coluna de fumaça negra foi observada no reator 3, como vem ocorrendo nos últimos dias, mas o fenômeno continua sem explicação. A possibilidade de novos vazamentos radioativos aumenta o temor de contaminação no resto do país. A AIEA declarou, no entanto, que nenhum risco significativo para a saúde humana foi identificado até agora na área além do raio de 20km em torno da usina, de onde o governo já havia ordenado a saída dos moradores.

O governo brasileiro acompanha com atenção a situação, mas, por enquanto, não deve impor barreiras à importação de produtos alimentícios japoneses. Nos aeroportos, os voos provenientes do Japão não passam por inspeção especial, e as restrições para alimentos continuam as mesmas de antes do terremoto. Em nota, o Ministério da Agricultora afirmou que o Brasil ¿deve avaliar os possíveis riscos com base nas recomendações dos organismos internacionais¿.