Título: Selic menor afeta as metas dos fundos
Autor: Máximo,Luciano
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/03/2009, Finanças, p. B3

São Paulo, 20 de Março de 2009 - O fato de nunca antes em sua história a economia brasileira girar a uma taxa básica de juro real tão baixa, na casa dos 6,5% ao ano, ainda não foi digerido pelos fundos de pensão do País. Acostumado - e forçado por um arcabouço regulatório bastante exigente - a obter o grosso da rentabilidade a partir de aplicações financeiras conservadoras, cuja maior referência é a Selic, o setor encara a atual flexibilização da política monetária como um dos principais desafios para atender aos interesses de seus participantes.

O momento é de reavaliar alocações de investimento e, inclusive, considerar eventual redução da meta atuarial de rentabilidade das entidades, pois o retorno de mais de 170% ao longo dos últimos oito anos, com Selic em alta e mercado de capitais exuberante, dificilmente voltará a ser realidade num futuro próximo, de acordo com os cenários traçados ontem por vários economistas durante seminário internacional organizado pela Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), em São Paulo. Os fundos de pensão fecharam 2008 com R$ 419 bilhões em patrimônio.

Para Sérgio Rosa, presidente da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ), trata-se de um movimento natural. "Historicamente a meta do setor é de 6%. Nós já havíamos reduzido a nossa para 5,75% e podemos reduzir mais, assim que a gente achar necessário. É uma maneira de reconhecer que o rendimento médio futuro será baixo. Internacionalmente, variando de país para país, os fundos trabalham numa média de 5%."

Em resposta à projeção de uma taxa de juro real em 5,4% neste ano, anunciada no evento pelo diretor de política monetária do Banco Central (BC), Mario Torós, Sérgio Rosa enfatizou que os fundos de pensão devem centrar esforços na diversificação de investimentos, principal característica do maior fundo de pensão do País - a Previ concentra cerca de 60% de seu patrimônio, de R$ 116,5 bilhões (2008), em renda variável. "Estamos menos dependentes da renda fixa e, mais especificamente, dos títulos do governo. Temos boa participação em imóveis, ações, fundos de private equity. A gente já buscou construir alternativas aos investimentos indexados à taxa Selic", ressaltou o dirigente.

Rosa complementou que a Previ pretende destinar R$ 1 bilhão de seu capital para operações de sete fundos de private equity parceiros. A entidade está interessada nos setores de infraestrutura e alimentos. "Depende da análise de cada fundo. Infraestrutura é uma área que o governo já decidiu priorizar e existem muitas empresas privadas interessadas. O Brasil também é muito forte no setor de alimentos, setor que enfrenta grave crise de gestão no mundo. É uma área que pode sair mais forte da crise", avaliou Rosa, sem comentar se a entidade vai apoiar uma eventual fusão entre Perdigão e Sadia, empresas nas quais a Previ é acionista minoritária com participações de 7% e 14%, respectivamente.

Para o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), o novo patamar real dos juros vai exigir mudanças institucionais. "Estamos num país que viveu a mais longa hiperinflação da história e que viveu tempo demais com uma taxa de juro alta demais. Estamos começando a viver uma nova etapa e essa crise acelerou o processo de redução dos juros no mundo todo. Isso vai exigir a revisão de uma série de mecanismos institucionais que foram construídos exatamente para a convivência com uma taxa excessivamente alta. Os fundos de pensão têm condições de crescer na crise, porque são muito capitalizados. Podem comprar novos ativos, fazer novos negócios e se fortalecer para a retomada do crescimento", destacou Mercadante. Mercadante declarou que trabalha na elaboração de um projeto de lei que obrigará que a direção dos fundos de pensão seja formada por pessoas tecnicamente qualificadas. "Buscamos criar um mecanismo para evitar a ingerência política na gestão e aprimorar mecanismos de controle e transparência."

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Luciano Máximo)