Título: CTNBio aprova primeiro transgênico de 2009
Autor: Botelho,Gilmara
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/03/2009, Agronegócio, p. B9

São Paulo, 20 de Março de 2009 - A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou ontem o plantio comercial do algodão transgênico WideStrike, com tecnologia resistente a insetos, da Dow AgroSciences Industrial, divisão da Dow Chemical. Foi a primeira liberação concedida este ano pela Comissão e ela não deve demorar a ser sucedida por outras. "O evento mais próximo de aprovação é uma outra variedade de algodão também resistente a inseto, o Bollgard 2", antecipa a diretora do Conselho de Informações Sobre Biotecnologia (CIB), Alda Lerayer.

Além da quinta variedade da semente transgênica da fibra, a CTNBio deve aprovar ainda mais um tipo de soja geneticamente modificada, resistente ao glufosinato de amônio. Atualmente existe apenas uma variedade de soja transgênica, a Roundup. "Por enquanto o sojicultor não tem alternativa e fica submetido à pressão de seleção de plantas resistentes", argumenta Alda Lerayer. Na pauta de discussão da CTNBio ainda existem alguns eventos de milho e uma variedade de soja da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A variedade de algodão aprovada ontem passou pelo crivo de 15, dos 20 integrantes da CTNBio. "O WideStrike contribui para uma agricultura com práticas sustentáveis porque controla a maioria das pragas", defende o diretor de Sementes e Biotecnologia da Dow no Brasil, Rolando Alegria.

Na última sessão em que foi autorizada uma liberação comercial, em dezembro do ano passado, também um produto da Dow, desenvolvido em parceria com a DuPont, o milho transgênico Herculex, recebeu autorização para plantio comercial. O Brasil conta com autorização para o plantio de algodão transgênico com tecnologia patenteada por outras empresas (Bayer e Monsanto), além de seis sementes de milho geneticamente modificado e uma de soja.

Algumas das variedades aprovadas ainda estão em processo de multiplicação de sementes. Os produtos com plantio mais desenvolvido são a soja Roundup Ready (RR) e o algodão Bollgard, ambos da Monsanto. O algodão WideStrike, por sua vez, usa a tecnologia Bt, também presente no algodão Bollgard.

Segunda geração em cena

O geneticista da Cotton Consultoria, que emitiu parecer favorável à liberação do WideStrike, Eleusio Curvelo Freire, explica que o evento em questão pertence a segunda geração de transgênicos da fibra. "O concorrente direto seria o Bollgard 1, que confere resistência a três lagartas, já o novo confere resistência as sete lagartas que atacam o algodão brasileiro". Apenas o algodão citado pelo geneticista foi liberado para comercialização, os outros dois, Roundup Ready resistente ao glifosato e Libert Link resistente ao glufosinato de amônio, ainda não passaram pelo crivo da Conselho Nacional de BioSegurança (CNBS). "Eles devem ser cultivados apenas na safra 2009/10. O WideStrike apenas em 2010/11", estima Freire.

O geneticista prevê que em pouco tempo vai haver uma "mistura das tecnologias", tendência já em prática em 74% das lavouras americanas de algodão. Segundo Freire, a combinação das tecnologias já aprovadas e aplicadas separadamente nas sementes de algodão brasileiras vai permitir uma concorrência mais leal com os produtores dos Estados Unidos e da Austrália.

Ainda de acordo com o geneticista, a nova semente a ser disponibilizada aos produtores de algodão brasileiro "economiza pelo menos sete aplicações de defensivos, o que resguarda o meio ambiente", defende Freire. A diretora do CIB reforça o coro e defende mais uma aprovação da CTNBio. "Começamos com o pé direito". Segundo Alda Lerayer, a Comissão já aprovou seis eventos de milhos, quatro de algodão e um de soja, além de três vacinas para controle de doenças de suínos. Seis dessas aprovações aconteceram no ano passado. "No portfólio internacional se chega a 280 aprovações, algumas já desenvolvidas, outras a um passo da aprovação", compara.

Feijão sem arroz

A audiência pública realizada um dia antes da liberação da nova variedade de algodão referente ao arroz Libert Link 62 da Bayer sinalizou a longevidade do processo para liberação da versão transgênica do cereal. Até a Embrapa questionou a possibilidade de cruzamento da variedade transgênica com a espécie conhecida como "arroz vermelho", sinônimo de praga apenas no Sul, criando um gene resistente ao tal arroz vermelho. Ao setor produtivo coube questionar a aceitação do mercado internacional. "Tenho certeza que o processo não termina esse ano", decreta Alda. De acordo com ela, "só mesmo depois do feijão da Embrapa, resistente a um vírus que dizima a produção por completo. É uma demanda antiga dos produtores e que deve ser apresentada à CTNBio no segundo semestre".

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 9)(Gilmara Botelho e Reuters)