Título: País terá um terço do mercado de frango
Autor: Neila Baldi
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/09/2004, Agribussiness, p. B-12

O Brasil deverá ficar com um terço do mercado exportador mundial de frango em 2004, estimado em 6 milhões de toneladas, mas essa participação tende a cair depois que os surtos de gripe aviária na Ásia forem controlados, disse Gordon Butland, o chefe mundial da área avícola do banco holandês Rabobank.

O inglês Gordon Butland destacou as vantagens comparativas da produção brasileira, mas criticou a dependência excessiva das exportações. "O Brasil ficou muito dependente do mercado externo. Faturou US$ 1,7 bilhão até agosto. Imagine se acontece algo como um foco de gripe. Da noite para o dia, ficaria sem essa fatia (do mercado)", diz.

Butland, responsável por analisar possibilidades de investimento e de empréstimos do Rabobank na área de frangos em todo o mundo, afirma que seria saudável um crescimento das vendas no mercado interno, o que ele acha que poderá acontecer se os atuais indicadores de atividade econômica continuarem positivos por mais algum tempo.

"Estudos mostram que nos países emergentes há relação direta entre PIB e proteína animal. Quando um cresce, o consumo do outro também sobe. Como o frango é a carne mais barata aqui, tende a receber o incremento primeiro (entre as carnes)."

Sadia e Perdigão

O analista afirmou que atos como o da Cargill comprando a Seara no Brasil faz com que as grandes empresas do setor repensem suas estratégias. Mas diz ser difícil falar sobre quais seriam os próximos movimentos no mercado brasileiro. "Agora sobraram só a Sadia e a Perdigão (de maior interesse para o capital estrangeiro). São empresas abertas, o que sempre complica uma aquisição. Elas tiveram um momento muito bom nos últimos 12 meses", diz.

A aquisição da Seara, no início do mês, alimentou especulações no mercado sobre novas compras ou fusões entre as companhias do setor. Os comentários envolveram também empresas como Chapecó e Avipal. Butland diz que o mercado de carnes brasileiro é pulverizado, o que dificulta a entrada de uma grande companhia estrangeira.

"As quatro maiores dominam apenas 25% do mercado, enquanto nos Estados Unidos as dez maiores têm 80% da produção", afirma.

Quanto à gripe de aves, o especialista diz que ainda é difícil vislumbrar o fim da crise, mas acredita que o Brasil vai perder participação quando a situação se normalizar, sobretudo no Japão, que deverá voltar a ser abastecido pela Tailândia. "Eles levam seis dias para entregar o produto. O Brasil leva um mês."

Segundo a Abef, entidade que reúne os exportadores, as vendas para o Japão entre janeiro e agosto atingiram 204 mil toneladas, 64% mais que em 2003. O país já é o segundo maior comprador de carne de frango do Brasil, depois da Arábia Saudita. "O Brasil é de longe o produtor de menor custo, para qualquer faixa do mercado. Certamente é o melhor custo-benefício do mundo."