Título: Venda de carne com maior valor agregado
Autor: Neila Baldi
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/09/2004, Agribussiness, p. B-12

O Brasil precisa agregar valor às carnes exportadas, diversificar os países compradores e dimensionar o crescimento de sua produção para os mercados interno e externo de forma equânime. Essa é a opinião de especialistas no setor presentes ao Simpósio Brasileiro da Indústria de Alimentação Animal, promovido pela empresa Alltech do Brasil, em Curitiba (PR).

Segundo levantamento do Rabobank International Brasil, nos últimos 12 anos o mercado mundial de aves cresceu 5% ao ano e a previsão para os próximos cinco a dez anos é de aumento de 3% ano. Em 2004, devido aos problemas de influência aviária na Ásia, o incremento será de apenas 1%.

Gordon Butland, vice-presidente sênior da instituição, diz que, no entanto, esta variação no passado não foi uniforme. "Sem Brasil, China, Índia e México não haveria esse crescimento", afirma. Por isso, ele acredita que o Brasil deve diversificar sua produção. "Se o crescimento do Brasil no futuro for baseado na exportação, corre risco", diz, citando o caso da Tailândia que teve prejuízo de US$ 500 milhões devido à gripe asiática.

As previsões de Butland são baseadas em fatores como crescimento populacional, de renda e escolha por determinadas carnes. Segundo sua avaliação, os maiores consumidores, Japão e Europa, que nos últimos 12 anos tiveram aumento populacional na ordem de 3% a 4%, em período igual futuro não devem aumentar mais de 1%. "Países que hoje o Brasil vende carnes não devem aumentar o consumo no futuro, pois à medida que a população envelhece, o consumo é maior de lácteos do que de carnes, segundo levantamento japonês", afirma Gordon Butland.

Butland afirma também que, em 18 meses, o Japão deve importar quantidade igual de carne "in natura" e industrializada - cerca de 350 mil toneladas para cada tipo - e a Europa deve dobrar a procura por industrializados, justamente um mercado que o Brasil não participa muito.

Por isso, na avaliação do presidente mundial da Alltech, Pearse Lyons, é preciso que o Brasil coloque valor em seus produtos, como vender carne enriquecida, sem antibiótico, e promova a sua marca. E, para Gordon Butland, o País tem condições de fazer isso, pois tem competitividade, com alimentação abundante e barata, e bom resultado no ganho de peso de seus animais.

Para Butland, os maiores concorrentes do Brasil serão a Tailândia e a China, no caso dos industrializados, e os Estados Unidos, no caso dos produtos "in natura". Ele cita como exemplo o fato de a Tailândia vender produtos de alto valor agregado, como a carne de peito, a preços altos ao Japão, podendo comercializar outros cortes a valores mais baixos. O mesmo acontece com os Estados Unidos.

Apesar de ser um grande concorrente do Brasil, Butland acredita que, no decorrer de uma década, inevitavelmente os Estados Unidos terão de abrir o mercado de "in natura" para o Brasil.

Para Butland, diante de um cenário sem crescimento expressivo no mercado mundial, o País vai precisar abrir novos mercados, por meio de acordos sanitários e buscando compradores tradicionais de outros países. "Sem esquecer que podemos ser alvo de quem atacamos", conclui Butland. Além disso, terá de investir em marketing.