Título: Experiência no exterior fortalece contribuição de cientistas ao País
Autor: França, Ana Lúcia
Fonte: Gazeta Mercantil, 17/04/2009, Indústria, p. C2

São Paulo, 17 de Abril de 2009 - "O brasileiro só precisa de uma oportunidade para decolar". A frase acima poderia parecer banal não fosse ela proferida pelo neurocientista brasileiro, Miguel Nicolelis, que lidera uma equipe da Universidade Duke, nos Estados Unidos, responsável por um dos mais importantes passos para a cura do Mal de Parkinson. Com um trabalho reconhecido no mundo inteiro, exposto inclusive na capa da revista Science, Nicolelis pode se tornar o primeiro brasileiro a receber um prêmio Nobel. "Eu sou um exemplo de que o Brasil tem gente talentosa que só precisa de uma chance para se desenvolver", afirmou ele, ontem, durante um almoço em sua homenagem, promovido pela Gazeta Mercantil e o Jornal do Brasil, com apoio da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação.

Para este paulista, o investimento em tecnologia e ciência é estratégico para qualquer país. "Quem não investir, será dominado por quem investe", diz taxativo. Por acreditar que ciência hoje é está globalizada, Nicolelis não vê a exportação de cientistas como uma coisa ruim. Pelo contrário, o fato de ir para fora tomar contato com o conhecimento mundial traz um grande retorno para o País. "Só 5% daqueles que vão não retornam", diz.

Presente ao almoço, a secretária estadual de Direitos da Pessoa com Deficiência, Linamara Battistella, também acredita que o local onde o pesquisador está não invalida sua história. "Ele não chega por acaso a um laboratório internacional, mas sim pela persistência". Para ela, a palavra de ordem é parceria e ter um cientista brasileiro lá fora dá condições de trazer para o Brasil o conhecimento. "Todos ganham", diz.

Justamente para dar oportunidades, o neurocientista criou o Instituto Internacional de Neurociência de Natal, cujo objetivo é fomentar a pesquisa científica de ponta e contribuir para o desenvolvimento educacional, social e econômico do Rio Grande do Norte e de toda região nordeste brasileira. "Trata-se de um trabalho sério e reconhecido no mundo inteiro, que mostra a qualidade da pesquisa brasileira", afirma Nicolelis.

Para a presidente do Hospital Sírio Libanês, Ivete Rizkallah, o trabalho do cientista se destaca porque "acima de tudo, ele se preocupa com o ser humano". Já para o dr. Maurício Rocha e Silva, ex-professor de Nicolelis, ter um aluno entre os 10 maiores pesquisadores do mundo não é só motivo de orgulho como também a confirmação de que o Brasil é mesmo um grande centro mundial de produção científica.

Os rumores de que Nicolelis poderia receber um prêmio Nobel, surgiram no final de 2007, quando ele foi chamado para dar uma palestra na fundação, em Estocolmo, na Suécia. Para o evento, realizado uma vez por ano, são convidados somente quatro palestrantes, sendo que boa parte deles torna-se um ganhador. Naquele ano, ele não levou porque a concorrência foi acirrada - com um pesquisador alemão que descobriu um vírus causador do câncer cervical, e dois franceses, que cujos trabalhos mostravam a ação do vírus da imunodeficiência humana. "Mesmo sem ganhar o prêmio, só de ser convidado para palestrar, já demonstra a importância que ele tem dentro do mundo científico e para todo o Brasil", conclui a secretária paulista.

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 2)(Anna Lúcia França)