Título: Expansão depende do governo destravar o PAC, afirma Belluzzo
Autor: Vizia,Bruno De ; Saito,Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/03/2009, Brasil, p. A7

18 de Março de 2009 - A economia brasileira só terá crescimento positivo se o governo "soltar" o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) e se tirar do papel o Fundo Garantidor. Mesmo com estas medidas, crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não deverá ultrapassar a marca de 1% em 2009, projetou o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. "O avanço vai depender da rapidez com que o governo destrave o PAC e implemente o Fundo Garantidor, dando garantias para que os bancos pequenos voltem a emprestar", avaliou.

Belluzzo também considera inevitável uma alteração da taxa de rentabilidade da caderneta de poupança. "Não é mexer na taxa, é ajustar, porque não dá para a poupança concorrer com a Selic (taxa básica de juro)", afirmou o economista, acrescentando que o objetivo da poupança não pode ser "o enriquecimento", pois ela é um instrumento de resguardo financeiro. "A poupança não pode ser um instrumento de especulação", argumenta.

Para o economista, na questão da redução do superávit primário o governo "não tem saída", e deverá recuar na proposta de manter a meta de 3,8%. "O superávit primário é um instrumento bom quando o setor privado está gastando, mas como isso não está acontecendo mais, o governo vai precisar reduzir [a meta]", caso queira diminuir o impacto da redução dos investimentos e do PIB previstos para este ano.

O economista Roberto Troster avalia que houve por parte do governo um erro de diagnóstico da crise. Ontem, em palestra em São Paulo, ele criticou a reação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que minimizou a previsão de queda do PIB brasileiro feita pelo banco de investimentos Morgan Stanley. "O governo está tratando a crise como se fosse uma questão de psicologia social. São os pessimistas que estão trazendo o problema", disse. "Acho que uma critica que faço ao governo é a miopia. Estamos pesando que vai acontecer em 2009. Tanto faz se crescer ou cair 1%, o ponto relevante é quanto vamos crescer 2010 e 2011."

Para Troster, o modelo de política econômica estava esgotado e economia brasileira já apresentava desaceleração antes do agravamento da crise em setembro do ano passado. Segundo o economista, as projeções para o PIB, que no final de 2007 apontavam para um crescimento de 4,2%, recuaram para 3,7% em agosto passado. "A economia já estava perdendo embalo."

"O problema do crédito é anterior a setembro e a crise externa agravou tudo", acrescentou o economista. Segundo Troster, os compulsórios represados no Banco Central passaram de R$ 203 bilhões no começo do ano passado. para R$ 270 bilhões em agosto de 2008. "No final do 2007, tivemos um enxugamento da liquidez mundial. Os bancos perderam fonte de capitação lá fora e, por outro lado, tiveram que amortizar empréstimo . "Era o momento de injetar, mas ele [o BC] tirou liquidez."

Para o economista Heron do Carmo, o setor público tem condições de liderar o processo de ampliação de investimentos. Dado o nível a arrecadação do governo, avalia, com uma pequena locação "na margem", não seria necessário cortar gastos, mas simplesmente aumentar menos o custeio e liberar recurso para investimento. "O setor público teve papel de liderança desde 30, e com uma capacidade de arrecadação menor do que hoje. Hoje, ele comanda algo como 40% da renda nacional e investe cerca de 1%, percentual que já foi de 7%. Muito do que pode ser feito depende do setor publico."

O economista destacou que há oportunidades de se mudar o País, promovendo investimentos em "questões evidentes", como saneamento, habitação e segurança. "Isso representa pouco em relação ao poder de arrecadação do setor publico. O governo tem a faca e queijo na mão para o País sair mais forte da crise. Falta apenas a vontade de cortar, falta a decisão de fazer", afirmou.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Bruno De Vizia e Ana Carolina Saito)