Título: CNI pede crédito mais acessível e desoneração de investimentos
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Fonte: Gazeta Mercantil, 18/03/2009, Brasil, p. A8

São Paulo, 18 de Março de 2009 - Crédito e desoneração do investimento. Estes dois pontos dominaram, ontem, a pauta da reunião do Fórum Nacional da Indústria, órgão consultivo da diretoria da Confederação Nacional da Indústria (CNI) que reúne 45 presidentes de associações de indústrias. "Não há liquidez na economia, sobretudo para os setores da média e pequena empresa", resumiu Armando Monteiro Neto, presidente da CNI. Segundo o dirigente industrial, "o crédito continua inacessível - e quando existe, é curto e caro".

Na análise da Confederação, as medidas do governo não estão surtindo os efeitos necessários para mitigar os efeitos da crise. Monteiro Neto citou as linhas de capital de giro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

"Os bancos têm as linhas do BNDES disponíveis, mas eles não as utilizam. Não querem assumir o risco, já que seriam co-responsáveis nestas operações", afirmou. De acordo com Monteiro Neto, "ao que parece, ao aplicar recursos próprios e - não os recursos de repasse - eles podem obter resultados melhores, via a vis o risco que assumem (emprestando para a pequena empresa)".

A CNI, portanto, propõem ao governo incentivar os agentes financeiros que efetivamente se disponham a assumir o seu papel como agente repassador, e punir aqueles não repassam recursos, por exemplo, com a não renovação das linhas do BNDES. Monteiro Neto sugeriu, ainda, alguma medida "via compulsório, com algum tipo de desincentivo".

Outra proposta defendida pela CNI é o Fundo Garantidor de Crédito. "Ele é um instrumento através do qual o crédito poderia fluir, diminuindo o risco para os agentes financeiros", propôs. Monteiro Neto também sugeriu às autoridades aumentar os recursos nos bancos oficiais. "É preciso desburocratizar algumas linhas, flexibilizar as condições de concessão do crédito em algumas áreas e criar mecanismos novos que ajudem a agenda do crédito", acrescentou.Para a entidade, um aspecto preocupante do momento é que as grandes empresas estão concorrendo pelo crédito no mercado interno, e "passam a ocupar o espaço das pequenas, inclusive junto aos bancos públicos".

O cenário, na visão do dirigente, não é promissor. "Na indústria deveremos ter um crescimento próximo de zero em 2009", calculou. Segundo ele, a indústria da transformação - que responde por praticamente metade do PIB da indústria como um todo, é a mais atingida - e a extrativa mineral está com o nível de atividade caindo. "Só a construção civil é que nos oferece uma perspectiva melhor para esse ano."

De acordo com o dirigente, a CNI espera um segundo trimestre melhor que o primeiro. "E imaginamos que, já no segundo semestre, possamos ter uma certa recuperação do nível de atividade industrial", afirmou.

No que tange às estimativas para o crescimento global da economia, Monteiro Neto disse que a entidade está revendo a sua previsão de crescimento do PIB, dos iniciais 1,5% a 2%, para algo próximo dos 0,5% .

Ciro Mortella, presidente da Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica, presente ao fórum da CNI, contou que, em seu setor alguns sinais são preocupantes. "Apesar de estarmos lidando com um momento atípico, a nossa produção física de fevereiro sobre janeiro caiu 9%", disse.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(Ana Cecília Americano)