Título: Fishlow vê Selic na direção dos 8,5%
Autor: Carvalho,Jiane
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/03/2009, Finanças, p. B3

São Paulo, 18 de Março de 2009 - O comportamento do Banco Central (BC) em meio à crise que se instalou na economia desde meados do ano passado foi elogiado pelo economista Albert Fishlow, professor da Universidade Columbia, em Nova York, e especialista na economia brasileira. A única ressalva, feita por Fishlow, foi a demora no início do afrouxamento da política monetária. "Em outubro, a situação já se mostrava preocupante e o BC ainda demorou para começar a cortar a taxa Selic", critica Fishlow. O primeiro corte no juro básico da economia foi feito apenas em janeiro deste ano, com nova redução em março, com recuo acumulado de 2,5 ponto percentual.

Em visita ao Brasil, onde participa amanhã do 3 Seminário Internacional de Renda Fixa promovido pela Andima e pela Cetip, Fishlow defendeu a continuidade dos cortes nos juros. "Há espaço e necessidade para novas reduções na Selic. Acredito que o BC vai seguir no caminho de uma redução mais rápida no juro, que pode fechar o ano em 8,5%", estima Fishlow. A taxa atual está em 11,25% ao ano. À exceção da demora em cortar a Selic, o comportamento do BC ganhou elogios do economista.

"No Brasil, todos gostam de criticar o BC, ele representa historicamente o diabo para empresários, sindicalistas, todos fazem suas críticas", brinca o especialista em Brasil, lembrando o nível atual das reservas internacionais do País, próximas de US$ 200 bilhões. Durante o processo de acúmulo das reservas - e antes do recrudescimento da crise global - eram comuns críticas em relação à estratégia da autoridade monetária, considerada dispendiosa para os cofres públicos. "Não fossem esses US$ 200 bilhões, a situação poderia ser muito pior", completa Fishlow.

Entre as iniciativas do BC citadas pelo professor da Universidade Columbia como acertadas nos últimos meses estão a flexibilização do compulsório dos bancos, para estimular o crédito, e o apoio às empresas que tiveram problemas para se desfazer das operações de derivativos. Sobre economia real, Fishlow tem uma estimativa de crescimento zero para o PIB brasileiro este ano. "E isso só vai ocorrer na melhor das hipóteses, ou seja, caso a economia global tenha alguma recuperação e ajude o Brasil a crescer no segundo semestre", diz. "Se o País conseguir uma taxa zero de crescimento este ano, o que seria bom no atual cenário, é possível que em 2009 volte a crescer algo perto de 3,5%."

Para o especialista em Brasil, além de novos cortes na Selic, outros pontos são fundamentais para o País. Um deles é estimular as exportações, para reduzir a dependência de financiamento externos. "Hoje, o Brasil é muito dependente do fluxo de recursos de fora, tem um nível de poupança doméstica muito baixo, em torno de 18% do PIB, enquanto a Índia por exemplo tem 25%", diz o economista. "O Brasil precisa tomar cuidado para não se fechar em meio à crise e buscar o contrário disso, ou seja, se inserir o máximo possível no comércio internacional."

Albert Fishlow também defendeu uma redução, por parte do governo, do superávit primário. "Talvez pudesse ser reduzido para 2,8% no ano, com os recursos conduzidos para investimentos que gerem demanda e ativem a economia", defende Fishlow. No geral, ele se mostra otimista em relação ao Brasil. "Pela primeira vez, vemos um Brasil procurando um período mais longo de melhorias na renda, na educação, na infraestrutura, com queda dos juros", elogia Fishlow, lembrando de conquistas recentes do País, como o controle inflacionário, além do fato de ter um sistema financeiro equilibrado.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Jiane Carvalho)