Título: Venezuela pode elevar preços após 13 anos
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Fonte: Gazeta Mercantil, 18/03/2009, InfraEstrutura, p. C2
Caracas, 18 de Março de 2009 - A Venezuela , país importante produtor de petróleo que viu suas receitas em divisas diminuir diante da brutal queda do preço da commodity nas bolsas, enfrenta o dilema de aumentar, no território nacional, as cotações da gasolina, uma das mais baratas no mundo, que estão congeladas há 13 anos.
O presidente Hugo Chávez, que promove um "socialismo do século XXI", anunciou que está sendo analisado um aumento no preço da gasolina, atualmente situado em um valor simbólico de US$ 0,04 por litro.
Após recordar que em seus 10 anos no poder o preço do combustível não variou, apesar da inflação da Venezuela ser a maior na região, Chávez disse que se chegou ao ponto em que "praticamente se dá de graça" a gasolina. "É um dos assuntos que estamos revisando, porque as pessoas consomem muito (combustível) nesses carros de luxo, e não é justo que os ricos quase não paguem pela gasolina aqui", enfatizou.
Efeito limitado
No entanto, os economistas consideram que o aumento nos preços terão um impacto econômico positivo muito limitado. "Um incremento por si só no preço da gasolina não resolverá o problema fiscal da Venezuela, porque será preciso colocá-lo nos níveis internacionais, ou seja, e isso não está sendo cogitado", disse o economista José Guerra.
A Venezuela sofre na própria pele a queda dos preços petrolíferos. Em 2008, o barril venezuelano registrou um preço médio de US$ 86,81, mas, até o momento, mal supera os US$ 36 por barril.
Para o economista Orlando Ochoa, o preços da gasolina está "tão defasado que qualquer ajuste resulta de pouca importância." Em comparação com outros produtos, a gasolina é o mais barato que se pode adquirir no país, o que cria situações insólitas: um automóvel compacto enche o tanque com US$ 1,5, um litro de leite na caixa custa quase US$ 2, e um litro de óleo para motor de carros é vendido a US$ 15.
Congestionamento
Em anos recentes, o número de veículos nas principais cidades da Venezuela se multiplicou sem controle, e atualmente os motoristas perdem de duas a três horas nos congestionamentos em Caracas. Quando chegam a seus destinos, começa o pesadelo de encontrar uma vaga, já que os estacionamentos públicos estão quase sempre cheios.
Foram vendidos em 2008 na Venezuela, país com um pouco mais de 26 milhões de habitantes, um total de 271.622 novos automóveis. De acordo com Guerra, o subsídio para a gasolina no país está próximo aos US$ 6 bilhões anuais. Embora o litro da gasolina seja vendido a US$ 0,04, sua produção custa para a estatal venezuelana PDVSA aproximadamente US$ 0,14, segundo cálculos de especialistas do setor petrolífero.
Quebra de tabu
O último aumento de preço da gasolina na Venezuela ocorreu em 1996, durante o governo do presidente social-cristão, Rafael Caldera. Desde então, o tema da alta dos preços da gasolina se converteu em um tabu no país, onde se considera que o petróleo pertence de alguma forma a todos os cidadãos. Além disso, a decisão de aumentar o preço do combustível é considerada a principal causa do "Caracazo", uma onda de violentos protestos e saques que foram reprimidos a custa de centenas de mortos há 20 anos.
Em 2007, o presidente venezuelano tentou aumentar o preço da gasolina e lançou uma campanha publicitária para explicitar a medida que, finalmente, não foi aplicada.
No dia-a-dia, os especialistas consideram que o aumento do combustível terá principalmente um impacto "na estrutura dos custos com transporte."
No ano passado, o petróleo representou 90% das receitas de exportações da Venezuela, cujo orçamento para este ano previu um barril a US$ 60.
(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 2)(AFP)