Título: Crise derruba déficit para US$ 591 milhões em fevereiro
Autor: Aliski,Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 25/03/2009, Brasil, p. A4
Brasília, 25 de Março de 2009 - A crise econômica mundial está ajudando o Brasil a reduzir o déficit em transações correntes. O rombo em fevereiro foi 68% menor do que em igual período do ano passado. Essa é a diferença entre o déficit de US$ 591 milhões em fevereiro deste ano e os US$ 1,882 bilhão registrado em fevereiro do ano passado. No acumulado do primeiro bimestre, o déficit chega a US$ 3,344 bilhões, retração de 43,41% frente ao saldo negativo de US$ 5,910 bilhões de igual período do ano passado .
Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, o fato de o Brasil não ter mais dívida externa pública não cria desajustes profundos nas contas externas em momentos de crise. "O ajuste é mais rápido, mais intenso, porque atualmente temos uma estrutura do balanço de pagamentos mais saudável", afirmou.
O BC revisou a projeção do déficit em transações correntes para todo o ano de US$ 25 bilhões para US$ 16 bilhões. Na versão anterior, o déficit representava 30,2% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto que a nova estimativa equivale a 21,2% do PIB. O fluxo de Investimento Estrangeiro Direto (IED) é estimado em US$ 25 bilhões para este ano (frente estimativa anterior de US$ 30 bilhões), o suficiente para financiar as contas externas. Em fevereiro, parcela de US$ 1,968 bilhão chegou ao Brasil por IED, o melhor resultado para o período desde fevereiro de 1999, quando atingiu US$ 4,622 bilhões.
Mas o BC refez também a estimativa de sangria de recursos externos investidos em ações e em renda fixa, saltando de US$ 3 bilhões para US$ 10 bilhões. Só no acumulado do bimestre, US$ 2,503 bilhões já haviam deixado o País, o que tornou inviável sustentar projeção anterior, justificou o BC. No acumulado de março, conforme dados até ontem, ingressaram de US$ 50 milhões externos no mercado de renda fixa e houve saída de US$ 473 milhões do mercado de ações.
Segundo Lopes, o ajuste no balanço de pagamentos espelha prioritariamente a atividade produtiva desacelerada e um fluxo comercial mais fraco, o que também torna mais amenas as despesas com serviços. Em fevereiro, a conta de serviços e rendas fechou com saldo negativo de US$ 7,821 bilhões, frente US$ 11,951 bilhões de igual período de 2008. As remessas de lucros e dividendos somaram US$ 1,103 bilhão em fevereiro e deverão atingir US$ 15 bilhões em todo o ano.
As despesas com viagens de brasileiros ao exterior despencaram, atingindo US$ 551 milhões em fevereiro deste ano, frente US$ 812 milhões em igual período do ano passado. No resultado parcial de março, as despesas com viagens acumuladas até ontem somavam US$ 488 milhões. Os gastos de estrangeiros no Brasil atingiram US$ 430 milhões no mês passado, contra US$ 495 milhões em fevereiro de 2008. Para o ano, o BC projeta déficit de US$ 2,5 bilhões na conta de viagens, ante saldo negativo de US$ 5,177 bilhões em 2008.
O BC alterou também a estimativa do saldo da balança comercial de US$ 14 bilhões para US$ 17 bilhões. A nova previsão considera exportações de US$ 158 bilhões em 2009, uma queda de 18,1% em relação aos US$ 193 bilhões da projeção antiga. As importações agora são estimadas em US$ 141 bilhões, retração de 21,2% frente à projeção anterior de US$ 179 bilhões.
O ritmo de liberações de Adiantamentos de Contratos de Câmbio (ACCs) continua fraco, em um total de US$ 3,341 bilhões em fevereiro. Na parcial de março, somando US$ 1,824 bilhão até 20 de março em uma média diária de pouco mais de US$ 120 milhões, frente média diária de US$ 146 milhões em fevereiro, valores suficientes para financiar cerca de 25% das exportações. A taxa de rolagem da dívida externa privada em março está no patamar de 44%, frente 63% em fevereiro.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Ayr Aliski)