Título: Gol colhe os primeiros frutos da Varig
Autor: D¿Angelo,Marcello
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/03/2009, Brasil, p. A11

São Paulo, 23 de Março de 2009 - O nascimento de qualquer empreendimento, nos mais diversos segmentos da economia, nunca é fácil. O renascimento então é um desafio duríssimo. Num cenário restritivo de crise financeira pode ser impossível. Não para a Gol Linhas Aéreas Inteligentes, que apresentou no último trimestre de 2008 o segundo período do ano com resultado operacional positivo. Aqueles que olham apenas para o resultado líquido, um prejuízo de mais de R$ 1,3 bilhão, podem acabar não enxergando a tendência positiva de dois trimestres consecutivos de lucro operacional. Quase R$ 54 milhões no quarto trimestre de 2008 e R$ 61,2 milhões no terceiro trimestre de 2008. Outro indicador importante, que pode apontar para uma perspectiva positiva da nova empresa, é o fato de receitas e despesas terem evoluído em linha desde a aquisição da Varig pela Gol em abril de 2007. Esses indicadores registraram evolução de 30% durante o ano passado se comparados aos números dos últimos trimestres de 2007 e 2008. Reflexos positivos do processo de integração das malhas aéreas da Gol e da Varig são o aumento do yield (média que um passageiro paga por quilômetro voado) de 23,7% que atingiu quase R$ 0,26 e o RASK (Receita operacional por assentos-quilômetro oferecidos) que registrou incremento de 7,9%, isto é, R$ 0,16. A mensuração é importante duplamente, pois a Gol é conhecida por ter um modelo operacional de baixo custo e baixo preço e que soube preservar a gestão bem-sucedida na complexa operação de unificação com a administração convalescente da Varig. Outro cenário de pressão que poderia deteriorar fortemente a relação entre receitas e despesas, mas que não aconteceu, foi obviamente a crise financeira mundial com seus múltiplos males para as empresas, sobretudo as companhias de aviação. Desde meados do ano passado, com o óbvio acirramento pós-quebra do banco americano Lehman Brothers, o crédito secou e o câmbio desfavorável se consolidou em patamar alto e nocivo. Além disso, o preço do combustível usado nos aviões bateu recordes com a alta do petróleo que atingiu até US$ 200 por barril. O combustível representa cerca de um terço dos custos de uma companhia aérea e esse pesadelo só se dissipou no final de 2008.

Nesse sentido a firmeza na condução dos planos de investimentos, em especial na renovação e padronização da frota se mostraram acertados, já que tiveram impacto em economia de combustível e custos de manutenção. Hoje a nova companhia opera com 106 jatos, predominantemente aeronaves Boeing 737 com idade média de 6,8 anos. Esse plano continua a todo vapor nos primeiros meses de 2009 com a chegada de 5 novos aviões do fabricante americano. Outro destaque importante que reforçou a fidelização de clientes foi a adoção, também para os passageiros da Gol, do programa de milhagem Smiles que conta hoje com mais de 6 milhões de clientes cadastrados. Nessa direção a empresa anunciou ainda acordos de complementação de rotas com a norte-americana American Airlines e europeia Air France/KLM. Essas parcerias podem no futuro resultar em programas de compartilhamento de milhagem para os passageiros.

Em evento subsequente à divulgação dos resultados consolidados de 2008, o conselho de administração da Gol aprovou o aumento do capital social da companhia por meio da emissão de 26,1 milhões de ações, sendo 6,6 milhões de ON e 19,5 milhões PN, ambas ao preço de R$ 7,80 por ação. O valor total da capitalização será de R$ 203,5 milhões e tem como objetivo o fortalecimento da estrutura de capital para fazer frente às necessidades de seu plano de investimentos em modernização. A operação que busca no mercado de capitais alianças fundamentais foi bem recebida em relatório emitido pelo banco Itaú Securities Equity Research, após a divulgação dos resultados da Gol. O analista Victor Misuzaki analisa como positiva a capitalização em primeiro lugar por ter se baseado em preços de mercado das ações, o que oferece a todos os acionistas opções justas de subscrição e, depois, pelos impactos positivos a curto e longo prazos nos planos de crescimento.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 11)(Marcello D¿Angelo)