Título: Petrobras diz que vai avaliar ajuste de preço
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Fonte: Gazeta Mercantil, 23/03/2009, InfraEstrutura, p. C4

Rio de Janeiro, 23 de Março de 2009 - O diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, cogitou na sexta-feira a possibilidade de uma redução no preço do diesel e da gasolina, porém somente a partir do momento em que a estatal conseguir recuperar as perdas acumuladas no ano passado, quando o barril do petróleo atingiu o pico de quase US$ 150.

"A defasagem de preço existe sim. Estamos em um processo de recuperação de perdas. Essa recuperação não será demorada, mantidos os atuais parâmetros", disse Costa a jornalistas, em entrevista marcada pela empresa visando esclarecer a questão, após críticas de que a estatal não estaria repassando para o mercado brasileiro a queda nos preços internacionais do petróleo.

Segundo Costa, quando as perdas forem totalmente recuperadas, a Petrobras " vai avaliar um ajuste no preço" do diesel e da gasolina. O executivo admitiu possibilidade de empresas importarem derivados por conta da defasagem de preço. "É óbvio que se a defasagem chegar a um valor proibitivo vamos ter que fazer algo, porque senão as distribuidoras vão começar a importar".Para Costa, porém, são inverídicas as acusações de que a empresa estaria praticando preços abusivos em relação a outros países. "O preço da gasolina na porta da refinaria custa R$ 1 o litro, o resto são impostos e margens dos comerciantes", disse Costa. "O que não posso baixar são os impostos, que eu não tenho o domínio, o que eu reduziria é na porta da refinaria", completou.

Alisio Vaz, vice-presidente-executivo do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), concorda que os impostos tenham grande influência no preço final. "O que é indiscutível é que, no preço final, mais de 40% é de impostos em São Paulo, então é a parcela talvez que pese mais", disse.

Segundo Vaz, os intermediários - postos e distribuidoras - são responsáveis por 16% do preço, participação que ele considera "normal, em linha com outros países". "Há muito pouco espaço para reduzir isso (margem). A competição no mercado de distribuição e revenda é muito intensa, são 160 distribuidoras e 35 mil postos. Existe uma competição que supostamente assegura que essa margem de comercialização está nos patamares desejáveis", completou.

Preço ideal para o barril

De acordo com o diretor de abastecimento da Petrobras, o preço ideal para o barril do petróleo para viabilizar investimentos futuros da indústria é de US$ 70 a US$ 80 por barril. Nesta sexta-feira, a commodity fechou em US$ 51,06. "Espero que o petróleo fique acima dos US$ 50 para o mundo não ter dificuldades no futuro. Para produzir no Ártico, na Venezuela e no Canadá, esse é o preço adequado", afirmou Costa.

Greve dos funcionários

O diretor de abastecimento da petrolífera brasileira afirmou também que a empresa já montou um plano de contingência para uma eventual paralisação de petroleiros a partir de hoje. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) ameaça parar por 5 dias. "Já montamos um plano nas áreas de refino e abastecimento. Esperamos que não tenhamos queda", disse ele. "O plano é para cinco dias. Temos estoques e outras estratégias para não haver problemas", acrescentou.

Refinaria de US$ 20 bi

Costa comentou também que a Petrobras não tem contrato de exclusividade com a trading japonesa Marubeni, interessada em participar da construção de uma refinaria de US$ 20 bilhões em parceria com a estatal, no Maranhão. Segundo o diretor, a Petrobras, que assinou um memorando de intenções para avaliar o projeto com a Marubeni, tem prazo de três meses para considerar se vai ser ou não parceira da trading na refinaria do Maranhão, prevista para ter capacidade de processar 600 mil barris de petróleo por dia. "Não tem exclusividade, mas hoje estamos conversando só com eles."Ainda falando sobre projetos de refinarias, Costa disse que a Petrobras e a PDVSA têm até o dia 25 de maio para resolver se a estatal brasileira fará uma parceria com a venezuelana na refinaria Abreu Lima, em Pernambuco. A Petrobras, que já afirmou que construirá a refinaria mesmo se não houver acordo com a PDVSA, discute o preço do petróleo que será pago à empresa venezuelana e a possível entrada da estatal do país governado por Hugo Chávez no mercado de distribuição do Nordeste.

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 4)(Reuters)