Título: BC ainda estuda alterações, afirma Meirelles
Autor: Lavoratti, Liliana
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/04/2009, Brasil, p. A5

20 de Abril de 2009 - O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem que o Brasil vai sair melhor desta crise porque não está tomando medidas que enfraquecem o País, ao contrário do que ocorreu no passado. "Antes, nós saíamos da crise externa, mas entrávamos em uma crise interna de longa duração, com inflação elevada, câmbio e situação financeira em condições precárias", enfatizou diante de uma plateia de 320 pessoas entre empresários, políticos e celebridades que participam do oitavo Fórum Empresarial do Lide - grupo de líderes empresariais - , em Comandatuba, município de Una (Bahia).

Entre os fatores que diferenciam o Brasil atual daquele do final das crises externas anteriores, Meirelles citou o fato de o país ser credor líquido internacional - a depreciação do real perante o dólar gerou R$ 181 bilhões de ganho para o Banco Central, "reforçando o Tesouro Nacional" - e a série de medidas adotadas pelo Banco Central desde o final do ano passado para amenizar a falta de crédito, entre elas a liberação de R$ 100 bilhões do compulsório, US$ 21 bilhões para os bancos financiarem as exportações, e a ampliação dos limites do fundo garantidor de crédito, que assegura os títulos emitidos por pequenos e médios bancos. Ao passar de R$ 60 mil para R$ 20 milhões esse limite, esses bancos ganharam segurança para voltar a competir no mercado, ajudando a melhorar a oferta de crédito. "Estamos monitorando com atenção e, se necessário, vamos tomar novas medidas", enfatizou. Ele acrescentou que a aprovação, prevista para acontecer em breve, do cadastro positivo, também ajudará a acelerar a queda do spread e também dos juros de mercado. "Já estamos com a menor taxa básica de juros da histórica e a tendência é de queda do spread, que ainda está muito alto", ressaltou.

O presidente do BC não quis antecipar as alterações em estudo no rendimento da caderneta de poupança, retringindo-se a dizer que essa questão terá de ser enfrentada. "Quem aplica quer garantir o melhor ganho possível; quem empresta também quer o mesmo. Todos querem pagar menos tributos. O difícil é encontrar o equilíbrio" Segundo ele, ainda não há nada decidido e ao BC cabe buscar elementos "técnicos".

Henrique Meirelles não descartou ontem que poderá disputar as eleições do próximo ano, embora sua prioridade do momento seja colaborar para o País sair da crise. "No momento não tenho nenhuma previsão de sair do BC, eu tenho compromisso com o presidente Lula e com o povo, minha prioridade absoluta é a luta pelo enfrentamento da crise e para que o Brasil possa, de fato, dizer com segurança no futuro que saímos da crise", afirmou, ao ser questionando pelos jornalistas se mantinha a previsão anunciada ano passado de deixar o cargo para concorrer ao governo de Goiás.

Diante da insistência dos jornalistas, que quiseram saber se as dificuldades decorrentes da derrocada do sistema financeiro internacional resultaram no abandono de seu projeto político, Meirelles repetiu que seu compromisso mais importante momento "é estar focado no BC, pois no momento não há margem para se pensar em outras coisas. Do contrário, a população poderia dizer: peraí, eu estou aqui preocupado com meu emprego, com a poupança e o presidente do BC está preocupado com outra coisa que não a crise", comentou em entrevista realizada após ter falado sobre crescimento sustentado em evento do Lide

Eleito deputado federal pelo PSDB de Goiás em 2002, Meirelles não assumiu a vaga na Câmara para ocupar o cargo no BC no início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2003. Na ocasião, atendendo a exigências formais, se desligou do PSDB. Para se candidatar às eleições em outubro de 2010, terá se filiar a um partido político até o final de setembro próximo, segundo a legislação eleitoral em vigência.

Meirelles também foi enfático durante sua palestra, quando falou das medidas de desoneração tributária de bens de consumo - automóveis e mais recentemente geladeiras, fogões e outros produtos da linha branca. "Não vou entrar na controvérsia acerca de que poderíamos fazer isso e aquilo, pois a solução não pode ser óbvia. O fato é que o Banco Central não pode ser caracterizado como hiper-conservador se a política monetária ajudou a reduzir a pobreza", ressaltou. De acordo com estatísticas oficiais, nos últimos anos no Brasil 41 milhões de pessoas cruzaram para cima a linha da pobreza. Mais da metade - cerca de 20 milhões - , entraram para a classe média.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Liliana Lavoratti e Leandro Mazzini)