Título: Cobranças e saia-justa entre empresários e deputados
Autor: Mazzini, Leandro; Lavoratti, Liliana
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/04/2009, Brasil, p. A8

20 de Abril de 2009 - O primeiro dia de debates do Oitavo Fórum Empresarial de Comandatuba, ontem, foi focado na palestra do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e no debate travado - uma saia justa - entre a empresária Luiza Helena Trajano, dona da rede Magazine Luiza, e os deputados Michel Temer, presidente da Câmara, e Arlindo Chinaglia, ex-comandante da Casa. O clima esquentou quando Luiza pegou o microfone e fez uma cobrança em público aos deputados e senadores à mesa do fórum.

"O que a Câmara dos Deputados está fazendo para evitar os gastos desastrosos com o dinheiro do povo?", perguntou Luiza, seguida de uma ovação da plateia. Temer não se esquivou: "Isso comportaria uma longa conferência, mas a pergunta revela a importância que o Legislativo tem para a democracia. Existem equívocos, e estão sendo denunciados, são cerca de 12 num universo de 513 deputados e 81 senadores", mensurou o deputado. "Só que generalizam para a instituição." Luiza pediu a palavra: "Nós acreditamos em vocês, tanto é que votamos em vocês, mas nesse momento que se fala em mudar paradigmas, não vemos nada efetivo para mudar." E lembrou o caso do excesso de diretores do Senado, o qual não via medidas de fato.

Para delírio do público de empresariado, ela cobrou a reforma tributária, "que já está mais do que discutida", e explicou a crítica: "Os empresários não são contra o Congresso, mas querem ver o dinheiro público ser bem gasto. A luta dos empresários é mandar embora quem está errando, os de bem devem ficar." Foi a vez de Temer, então, contra-atacar, em nome dos parlamentares, criticando o excesso de pessimismo com os trabalhos do Congresso Nacional: "Por que vocês não saem daqui contando as coisas boas que a gente faz?", perguntou o presidente da Câmara.

Mais didático, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, deputado licenciado, endossou Temer em um aparte: "O que há de errado na nossa democracia? Porque nós temos um presidente da República com a popularidade histórica, governadores muito bem avaliados e prefeitos também, e ao mesmo tempo o Congresso nessa situação, Assembleias Legislativas muito más e Câmaras de vereadores também. A mãe de todas as reformas é a política."

Múcio ainda fez uma comparação para reforçar as críticas da imprensa: "Quando um avião voa, não é notícia. Mas se ele cai, sai nos jornais. Por que não publicam o que fazemos de bom?"

Foi então que o ex-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) levantou-se e defendeu a classe, citando feitos de sua gestão. "Em dois anos foram economizados R$ 227 milhões só em horas extras, e que foi suficiente para pagar os salários dos deputados de dois anos", disse Chinaglia.

Para fechar, o senador Heráclito Fortes complementou: "O Parlamento que comete erros é o mesmo que se juntou à sociedade para derrubar a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) e a mesma que fiscaliza as ONGs (Organizações Não Governamentais). Nós vamos para lá mandados por vocês, mas vocês esquecem da gente."

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(Leandro Mazzini e Liliana Lavoratti)