Título: Pressão sobre juro pode conter crédito
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Fonte: Gazeta Mercantil, 20/04/2009, Finanças, p. B1
São Paulo, 20 de Abril de 2009 - As pressões do governo federal para a queda dos spreads bancários podem ter como efeito colateral uma retração no crédito, caso leve a um redução rápida dos juros. O alerta foi feito pelo presidente do HSBC Bank no Brasil, o britânico Shaun Wallis. Para o executivo, no comando da operação local do HSBC desde meados do ano passado, é um erro achar que apenas reduzir juros resolva o problema do crescimento.
"O Japão ficou anos com juro zero e nem por isso a economia deslanchou, o mesmo ocorre no Reino Unido com taxas baixas e dificuldade de crescimento", afirmou Wallis durante evento na Câmara Britânica de Comércio, em São Paulo. "O momento atual é de falta de confiança. Os consumidores têm receio de perder o emprego, a renda e com ambiente de insegurança o consumo e o investimento não retornam." Sobre a possibilidade de que o Banco do Brasil (BB) - a maior instituição financeira pública do País - reduza os juros sob pressão do governo, o presidente do HSBC fez um alerta.
"Ao reduzir as taxas de juros, há sempre o risco de que o crédito fique ainda mais escasso, porque haverá uma demanda maior por dinheiro. Neste processo, os bancos se tornarão mais cuidadosos ao conceder empréstimos o que pode reduzir a concessão de crédito", disse Wallis. "Os bancos no Brasil naturalmente olham o que acontece em outros países e procuram tirar lições. Uma delas é não emprestar muito dinheiro a pessoas que não têm condições de receber aquele crédito e, na prática, é isso que ocorre quando os juros são cortados muito rapidamente." Shaun Wallis evitou falar sobre qual seria a conduta do HSBC, em termos de spread, caso o BB realmente atenda aos pedidos do governo e faça cortes robustos nas taxas.
No início deste mês, as críticas do governo em relação aos spreads elevados dos bancos culminaram com a queda do então presidente do BB, Antonio Francisco de Lima Neto, substituído por Aldemir Bendine. Na ocasião, o presidente Lula afirmou que tinha uma "verdadeira obsessão" pela queda dos spreads, a diferença entre o custo de captação do banco o que valor que ele cobra ao conceder empréstimos.
Para Shaun Wallis, que antes de assumir o HSBC no Brasil esteve à frente do banco em Malta, as pressões devem crescer em 2010. "No ano que vem, teremos eleições presidenciais e acredito que as pressões tanto em cima do Banco Central como dos bancos comerciais ficarão ainda maiores", afirmou. Embora o acirramento das pressões esteja na agenda do executivo, a visão do presidente do HSBC sobre a economia brasileira é bastante positiva. "É evidente que as consequências da crise global no Brasil são bem menores do que em outros países. Não estamos em recessão", avaliou Wallis. O executivo citou como pontos favoráveis do País a estabilidade econômica, a solidez do sistema financeiro, com regras rígidas, o regime de metas de inflação e as reservas elevadas.
O presidente do HSBC falou também sobre o desempenho esperado para o setor bancário. "O crescimento que vocês viram no setor nos últimos anos não se repetirá, será menor este ano por conta da retração econômica", afirmou Wallis. "Crescimento econômico mais lento conduzirá à expansão menor dos empréstimos." Questionado sobre o desempenho da carteira de crédito do banco no ano, o executivo afirmou apenas que deve crescer menos do que nos últimos três anos. "Uma estimativa mais precisa depende ainda de como a economia voltará a recuperar sua força." No ano passado, o HSBC registrou um lucro líquido de R$ 1,35 bilhão, com 9% de expansão sobre 2007. As operações de crédito avançaram 27%.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Jiane Carvalho)