Título: Reunião do G20 não vai mudar o mundo
Autor: Vizia,Bruno De
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/03/2009, Brasil, p. A8

São Paulo, 26 de Março de 2009 - Quem espera um mundo diferente após a próxima reunião do G-20 (grupo que reúne as vinte maiores economias do mundo) vai se decepcionar. Assim pensa o ministro britânico para Negócios, Empreendimentos e Reforma Regulatória, Peter Mandelson, reconhecendo que o encontro, marcado para Londres, no próximo dia 2, não vai mudar o mundo em um dia. "Não dá para imaginar que num encontro de um dia vamos resolver o mundo. Não devemos elevar demais as expectativas, quem fizer isso vai se desapontar. É um processo, e não um evento", afirmou o representante do governo inglês, durante palestra realizada ontem em São Paulo.

Da reunião do G-20 é razoável esperar "acordos sobre princípios e direções para onde queremos chegar", disse Mandelson. Dentre os princípios mencionados, estão: mais transparência no sistema financeiro; maior eficiência no sistema regulatório, "concentrado não só nas necessidades de capitais dos bancos, mas também em sua liquidez"; mais informações nas transações internacionais dos bancos, "para que os governos tenham tempo e conhecimento para agir e regular".

Veneno

O ministro britânico, que já foi o Comissário de Comércio da União Européia, qualificou as recentes medidas protecionistas adotadas por alguns países para enfrentar a crise como "veneno". Ele argumentou que o protecionismo "é uma ilusão de proteção a curto prazo que arruína a economia no longo prazo, dificultando a recuperação". Aumentar as barreiras comerciais não será a cura para a recessão econômica, mas sim aumentar as transações comerciais. Mandelson previu inclusive que após a crise o "comércio global vai se recuperar e vai dobrar de tamanho", e por isso os países devem estar preparados para essa recuperação.

Brasil e Mercosul

O Brasil é um dos países que tem que pensar sua economia em âmbito global, segundo o ministro inglês. Ele avalia que devido ao tamanho da economia e do mercado interno brasileiro "há uma tentação de achar que apenas este mercado [interno] é suficiente, mas há um mercado global do qual o País participa, e por isso o Brasil tem que pensar além de suas fronteiras".

Mandelson destacou que uma de suas maiores frustrações, quando representou a União Européia (UE) na Organização Mundial do Comércio, foi não ter concluído o acordo comercial entre o Mercosul e a UE, que teria sido protelado em detrimento de um entendimento maior na rodada de Doha. "Há um mundo de oportunidades no comércio entre estes blocos. Há tarifas desnecessárias, que precisam ser eliminadas. Precisamos de ar fresco nessa negociação", concluiu.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(Bruno De Vizia)