Título: Diretores da Camargo Corrêa são presos em operação da PF
Autor: Queiroga,Andrezza
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/03/2009, Direito Corporativo, p. A13

São Paulo, 26 de Março de 2009 - A Polícia Federal (PF) deflagrou, ontem, em São Paulo e no Rio de Janeiro, a Operação Castelo de Areia, que visava desarticular um esquema de crimes financeiros e lavagem de dinheiro. Foram apreendidos cerca de R$ 1,5 milhão e expedidos 10 mandados de prisão (três temporários e sete preventivos), sendo quatro contra diretores da construtora Camargo Corrêa, dois contra secretárias da empresa, três contra doleiros do Rio de Janeiro e um contra uma outra pessoa que é suspeita de ser um dos articuladores do esquema. Nenhum dos nomes dos envolvidos foi divulgado.

Em uma coletiva realizada na tarde de ontem, José Alberto Iegas, o delegado regional de combate ao crime organizado da PF, disse que a quadrilha movimentaria grandes quantias sem origem lícita através de empresas de fachada em operações conhecidas como dólar-cabo. O esquema funcionaria por meio de operações de câmbio e transferências bancárias com aparência de legalidade, utilizando-se, em alguns casos, de empresas fantasmas. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), haveria o caso de um dos doleiros que teria montado uma empresa de fachada no Rio, que emitia remessas aparentemente legais para o exterior, rotuladas como pagamento de fornecedores.

Os suspeitos estariam envolvidos nessas remessas ilegais de dinheiro para o exterior por intermédio de doleiros. Segundo a procuradora Karen Louise Jeanette Kahn, o envio ao exterior varia de R$ 200 mil a R$ 2 milhões e somariam, de acordo com o MPF, cerca de R$ 20 milhões. Além disso, a polícia investiga indícios de obras superfaturadas e doações não declaradas e não contabilizadas a partidos políticos. De acordo com a investigação, os doleiros e diretores da empresa se comunicavam por meio de sistemas difíceis de serem interceptados como IP Voip e Skype e usavam códigos, tais como nomes de animais, para se referirem a nomes de pessoas e moedas.

A operação investigou crimes como evasão de divisas, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e fraude a licitações, que, juntos, podem chegar a penas de até 27 anos de prisão. Segundo a PF, diversos clientes dos doleiros investigados também foram identificados e podem responder por crime de evasão que resulta em uma pena de 6 anos de prisão.

A PF informou que a operação envolveu cerca de 100 policiais e incluiu a apreensão de documentos e interceptações telefônicas, sendo que em uma dessas conversas, o nome de um dirigente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) teria sido citado. Procurada, a Fiesp se manifestou, por meio de uma nota, afirmando que "não teme qualquer investigação, acompanha os fatos com o mesmo interesse da sociedade e está confiante no trabalho da Justiça".

A PF apurou, ainda, o repasse de dinheiro a partidos políticos em troca de vantagens em licitações públicas, segundo informou a promotora que acompanha o caso, Karen Louise Jeanete Kahn. "A investigação indica que o grupo financiaria partidos políticos de várias regiões do País e o objetivo da quadrilha seria a obtenção de eventuais vantagens em licitações públicas, como contrapartida para as doações de campanha", disse.

A Construtora Camargo Corrêa, por sua vez, se manifestou por meio de uma nota em que disse "estar perplexa diante dos fatos, quando a sua sede em São Paulo foi invadida e isolada pela Polícia Federal". A empresa disse, também, que não teve acesso ao teor do processo e que além de cumprir com todas as suas obrigações legais, "confia em seus diretores e funcionários".

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 13)(Andrezza Queiroga - Com agências)