Título: Ações caem mais que projeção de lucro
Autor: Carvalho,Jiane
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/03/2009, Finanças, p. B1

São Paulo, 26 de Março de 2009 - A queda no valor de mercado das empresas negociadas na BM&F Bovespa, entre maio de 2008 e março deste ano, foi muito superior à redução nas expectativas de lucros destas companhias para 2009. Levantamento realizado pela Goldman Sachs Asset Management (GSAM), divulgado durante evento da Associação Brasileira de Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), mostra que a queda no valor de mercado das empresas ficou 26 pontos percentuais acima do corte registrado nas projeções de lucros para este ano. Um dos motivos do grande descolamento entre a previsão do lucro e o valor das empresas no mercado é a falta de segurança nas estimativas."Este comportamento tão distinto entre queda no valor das empresas na bolsa e as reduções promovidas nas expectativas de lucro das companhias pode ser explicado por uma falta de confiança do mercado como um todo, que não acredita nas previsões feitas, simplesmente não crê que estas estimativas de retorno vão se concretizar", avalia Gabriella Antici, responsável pela asset do Goldman Sachs, cujos ativos globais sob gestão chegam a US$ 690 bilhões. "O segredo para encontrar oportunidades de investimento está em saber o que já foi ou não precificado. No longo prazo, o valor da empresa é sua capacidade de gerar caixa, trazido a valor presente, mas a revisão atual nas perspectivas de lucro alterou muito o comportamento das ações das companhias no curto prazo."

Alguns setores, como financeiro, imobiliário e minério e aço, registraram um descolamento maior, segundo dados do Goldman Sachs. Enquanto a expectativa de lucro do setor imobiliário caiu 22% para 2009, o valor de mercado das empresas negociadas na BM&F Bovespa recuou 74% desde maio de 2008. A estimativa de lucro dos bancos caiu 15%, enquanto o valor das instituições financeiras sofreu uma queda muito maior, de 46%. No setor de minério e aço, os recuos registrados foram de 55% para o valor de mercado e de apenas 36% para a estimativa de lucro das empresas, uma diferença de 19 pontos percentuais.

Uma prova da descrença na realização dos lucros estimados para as empresas, lembra Gabriella Antici, é o comportamento do setor elétrico. "As empresas desse setor, considerado defensivo em tempos de crise, tiveram as estimativas de lucro elevadas em 9% para este ano, no entanto, registraram queda de 24% no valor de mercado na bolsa", destaca a executiva.

Potencial do mercado

Para a responsável pela asset do Goldman Sachs, que se diz otimista em relação ao potencial do mercado acionário no Brasil, ainda há algumas perguntas-chave no âmbito global e também doméstico que precisam ser respondidas. "No ambiente interno, é preciso saber se a queda dos juros reais será permanente ou não. Por enquanto, parece ser um movimento temporário", diz Gabriella. O juro real no País está em históricos 7%. "Em termos globais, é preciso saber como sairemos da crise atual, com maior ou menor protecionismo entre os países, com os mercados financeiros sendo, de fato, mais ou menos regulados e também qual será o nível de alavancagem", questiona Gabriella Antici.

No geral, afirma a executiva, o Brasil representa hoje uma boa oportunidade de compra. "Ainda persiste a dúvida sobre se há ou não espaço para quedas maiores nos mercados, mas no Brasil, mesmo que os lucros das empresas caiam, não cairão tanto quanto nos Estados Unidos. Olhando no longo prazo, as ações no Brasil estão bastante atraentes", diz Gabriella Antici.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Jiane Carvalho)