Título: Mercado vê economia estagnada em 2009, segundo boletim do BC
Autor: Aliski,Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/03/2009, Brasil, p. A4

Brasília, 24 de Março de 2009 - O mercado traçou o pior cenário até agora para o comportamento da economia brasileira em 2009. As estimativas dos cerca de cem agentes consultados pelo Banco Central apontam para a estagnação do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) com alta de apenas 0,01% no ano e retração da produção industrial de 2% neste ano.

As novas projeções do boletim Focus foram divulgadas ontem, resultado de dados coletados até a última sexta-feira, 20 de março. Uma semana antes, o mercado apostava em crescimento do PIB em 0,59% e retração da produção industrial de 1,59%. Os números mostram clara aposta na deterioração das condições da economia brasileira em resposta aos efeitos da crise financeira mundial, uma vez que no começo de 2009 vigorava estimativa de crescimento do PIB em cerca de 2% e alta de 2,5% na produção industrial.

Na semana passada, o governo reduziu a projeção de crescimento da economia de 3,5% para 2%. Parte do mercado, no entanto, já prevê uma retração do PIB neste ano. No início da última semana, o banco de investimentos Morgan Stanley informou, em relatório, que espera uma queda de 4,5% para a economia brasileira, ante estimativa anterior de crescimento zero.

De acordo com o boletim do BC, piorou também a previsão relativa à evolução da Dívida Líquida do Setor Público (DLSP), a qual deverá abocanhar o equivalente a 36,5% do PIB ao final do ano. Uma semana antes, o mercado acreditava que a DLSP chegaria a 36,4% do PIB. Paralelamente, aumentou o número projetado para o déficit em conta corrente, o qual é estimado em US$ 24,7 bilhões, frente US$ 24,5 bilhões da aposta da semana anterior. Foi mantida em US$ 22 bilhões a projeção de chegada de recursos para Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) e estável em US$ 13,02 bilhões o valor projetado para o saldo da balança comercial (na semana anterior a previsão era por um superávit de US$ 13 bilhões).

A retração da economia deve ocorrer a despeito da redução da taxa básica de juros, pois a pesquisa de expectativa mostra que o mercado aposta em taxa Selic de 9,25% ao ano no final de 2009. Seria o mais baixo patamar da taxa básica de juros desde sua criação, em 1999. Na pesquisa anterior, as projeções indicavam para Selic de 9,75% no final do ano. Atualmente, a taxa é de 11,25%, depois da retração adotada na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) no início de março. Até o mês passado, a Selic era de 12,75% ao ano.

Inflação em queda

Não há risco de impactos na inflação, indicam os agentes de mercado consultados pelo BC. Há previsões de queda dos percentuais de todos os indicadores. Para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vigora estimativa de alta de 4,42% no ano, abaixo, portanto, do centro da meta estabelecida pelo governo, de 4,5%. Na semana anterior, o mercado apostava em IPCA de 4,52% em 2009.

Para o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), a nova projeção aponta para variação de 3,18% no ano, frente 3,69%, na semana anterior. Para o Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M), a nova estimativa é de que haverá oscilação de 3,17% este ano, frente aposta de alta de 3,45%, na semana passada. E para o Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), a elevação prevista é de 4,3%, frente 4,35%, na pesquisa anterior. Foi reduzida também de 4,68% para 4,6% a projeção de alta dos preços administrados.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Ayr Aliski)