Título: Rolagem de dívidas de prefeituras pode chegar a R$ 14 bilhões
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Fonte: Gazeta Mercantil, 24/03/2009, Brasil, p. A5

Brasília, 24 de Março de 2009 - A Receita Federal estima em até R$ 14 bilhões o total da dívida dos municípios com a Previdência Social, que pode ser parcelada em até 20 anos. Autorizada por uma medida provisória, editada no início de fevereiro, a renegociação foi regulamentada ontem por um decreto publicado no Diário Oficial da União, mas ainda depende da edição de uma portaria para entrar em vigor.

Segundo o subsecretário substituto de tributação da Receita, Sandro Serpa, a portaria, que traz os detalhes operacionais do parcelamento, deve sair nos próximos dias. A partir daí, os municípios terão até 31 de maio para protocolar o pedido de parcelamento na unidade local da Receita.

O subsecretário ressaltou que o decreto não trouxe mudanças em relação às condições estabelecidas na Medida Provisória 457, que autorizou o parcelamento. O prazo de pagamento das dívidas vencidas até 31 de janeiro de 2009 será de 240 meses (20 anos) para a contribuição patronal dos municípios. Para a contribuição recolhida dos empregados, mas não repassada ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o intervalo é menor: 60 meses (cinco anos).

As parcelas mensais deverão ser equivalentes a pelo menos 1,5% da média mensal da receita corrente líquida municipal referente ao ano anterior ao do vencimento da prestação. Além disso, haverá acréscimo de juros equivalentes à taxa Selic, atualmente em 11,25% ao ano, e de mais um ponto percentual. Os juros de mora, no entanto, terão redução de 50%.

"As condições são praticamente as mesmas da renegociação das dívidas do INSS em 2005", avaliou Serpa. A única diferença, segundo ele, é que, no parcelamento de quatro anos atrás, o prazo para quitar a dívida com as contribuições dos empregados também era de 20 anos.

Para o subsecretário, a reabertura das renegociações não estimula a inadimplência dos municípios. "Pouco a pouco, as prefeituras estão conseguindo pagar os débitos previdenciários e o estoque da dívida está diminuindo", declarou Serpa, citando os municípios que aderiram à renegociação em 2005.

Das prefeituras que optaram pela renegociação na época, 701 municípios continuavam com parcelamentos ativos em janeiro de 2008. Naquele mês, as dívidas com o INSS somavam R$ 2,551 bilhões. Em fevereiro deste ano, o número de prefeituras com parcelamentos em curso era de 620 e o total da dívida havia caído para R$ 2,501 bilhões - diferença de R$ 50 milhões.

A Receita Federal não quis divulgar o número de prefeituras inadimplentes nem a lista dos principais municípios que devem ao INSS. O órgão alegou sigilo fiscal. Os municípios que deixaram de pagar o parcelamento por três meses seguidos ou seis meses alternados tiveram as prestações em atraso descontadas do repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), conforme expresso no acordo de renegociação.

A legislação prevê a suspensão do parcelamento caso o município não aceite o desconto no FPM. A Receita informou que, porém, até hoje poucas prefeituras foram excluídas do programa por "questões políticas". Serpa destacou que a política de diminuir os repasses do FPM para prefeituras inadimplentes continuará no novo parcelamento.

Queda de arrecadação

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, ao discursar em cerimônia de expansão do metrô em Jaboatão dos Guararapes, na região metropolitana de Recife, que irá conversar com os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo, sobre a queda de arrecadação do FPM. "Temos que olhar com carinho essa queda do FPM porque, se as cidades estiverem na situação que vocês [prefeitos] estão dizendo, é muito ruim para o povo que mora na cidade se o prefeito não conseguir sequer pagar o salário do funcionário", disse.

Lula disse que irá se interessar pessoalmente pelo assunto, mas que é preciso avaliar se o governo poderá ajudar. "Eu não sei o tanto que a gente pode ajudar, mas posso dizer aos prefeitos, aqui presentes, que vou me interessar pessoalmente por essa questão do FPM para ver se a gente pode ajudar".

Um levantamento realizado pela Confederação Nacional de Municípios mostrou que, no acumulado dos três últimos meses - entre o final de dezembro ao dia 20 de março -, os repasses do fundo sofreram queda de 7,49% em valores nominais ou 12,57% em termos reais, se comparados ao mesmo período de 2008.

O FPM é uma transferência constitucional composta de 22,5% da arrecadação do Imposto de Renda (IR) e do Impostos sobre Produtos Industrializados (IPI). A distribuição dos recursos aos municípios é feita de acordo com o número de habitantes. A atual queda na arrecadação dos impostos citados foi o que derrubou a arrecadação do fundo.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Agência Brasil)