Título: Venda de produtos de cobre cai 30%
Autor: Collet,Luciana
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/03/2009, Indústria, p. C3

São Paulo, 24 de Março de 2009 - A produção e as vendas de produtos de cobre apresentaram queda de cerca de 30% no primeiro bimestre do ano, em relação ao apurado em 2008, informou Sérgio Aredes, presidente do Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos, Trefilação, Laminação de Metais Não Ferrosos do Estado de São Paulo (Sindicel), sem revelar valores. "O setor navega em situação complicada", disse o executivo.

O dirigente explicou que houve retração nos principais setores consumidores de produtos de cobre. O sucroalcooleiro está parado, devido ao alto grau de endividamento, já os segmentos de siderurgia, mineração e petróleo, apesar do ainda significativo volume de investimentos, também apresentou retração, disse. "O setor de construção civil cresceu entre 10% e 11% em 2008, bem acima do PIB, e ainda arrasta um certo nível de crescimento de cerca de 3% para 2009, por conta das obras contratadas antes da crise, mas criou-se um buraco, não haverá obras para o final do ano", acrescentou.

Aredes afirmou, ainda, que as revendas e distribuidoras estão trabalhando com nível de estoque menor. "Eles também observaram uma retração e as vendas estão mais demoradas." Dentre os setores consumidores, o automobilístico é um dos que apresentou uma pequena melhora, uma vez que com a redução do IPI dos automóveis, as vendas de veículos apresentaram retomada a partir de janeiro e em fevereiro as encomendas de produtos de cobre já voltou a acontecer.

Um levantamento realizado pela entidade com os principais fabricantes do País indicou que 59% dos entrevistados registraram em fevereiro queda de mais de 10% no faturamento líquido, se comparado com igual período de 2008. Na mesma enquete, mais de 55% dos entrevistados prevêem que as encomendas cairão, em relação ao nível apurado em 2008. Entre os fatores que os empresários indicaram para a restrição do crédito junto às instituições bancárias, a crise financeira internacional e a queda nos volumes negociados com o mercado.

"Ainda temos esperança de que no segundo semestre haja uma recuperação parcial, com isso, encerraremos o ano com uma média de queda de 10%", disse. No ano passado o faturamento do setor somou R$ 8,4 bilhões. A entidade aposta em uma retomada, ainda que mais lenta, das vendas, a partir do final do segundo trimestre. Aumento de crédito e incentivos para setores como o da construção civil estão entre os motivos apontados para a potencial melhora. "Mas é preciso pensar mais na parte fiscal, reduzir o IPI para outros produtos, diminuir ainda mais a taxa de juros, que deveria estar em 7% ou 8%", afirmou Aredes.

De acordo com o presidente do Sindicel, atualmente as empresas estão revendo o planejamento de produção. Não há um dado firme da capacidade ociosa média do setor, mas na avaliação do executivo o índice deve estar em cerca de 30%, ante os 15% do ano passado. O dirigente informou que as empresas do setor foram pegas no contrapé , uma vez que a crise econômica, e a consequente queda na demanda, aconteceu depois que o setor tinha realizado investimentos de cerca de R$ 150 milhões, no ano passado, em ampliação e renovação em linhas de produção. "Ficamos com uma conta grande para pagar e um mercado deflacionado", disse.

Os preços do cobre apresentaram queda significativa, de até 20%, a partir de dezembro. "Se bem que agora o cobre está subindo na LME (Bolsa de Metais de Londres), mas ainda demora para recuperar no País."

Segundo Aredes, a queda na demanda, o aumento do dólar, e a redução da cotação internacional do produto levaram as fabricantes de manufaturados de cobre a reduzir as margens. "Perdemos cerca de 5 pontos percentuais, ou 15% em valor", afirmou.

Segundo Aredes, a perspectiva do setor é retomar as vendas externas com a ajuda de medidas políticas, como a liberação do uso de créditos por parte das empresas e a redução da taxa de juros. Em janeiro, o setor do cobre importou US$ 50 milhões e exportou US$ 26,7 milhões para terceiros mercados, o que resultou em um déficit de US$ 23,3 milhões.

Ao longo de todo o ano passado, as importações de cobre saltaram 45% quando comparado com o exercício de 2007, saltando para US$ 678,4 milhões. Já as vendas externas cresceram 6%, US$ 497,5 milhões. Com isso, o déficit comercial do setor atingiu US$ 181 milhões no ano, ante um superávit de US$ 1,6 milhão no ano anterior.

O Sindicel informou ainda que os prejuízos da indústria com roubo de cobre nos dois primeiros meses deste ano totalizaram R$ 1 milhão, com 83,5 toneladas do metal desviado. O valor é 148% menor quando comparado com o registrado em igual período de 2008, quando se apurou prejuízo de R$ 2,4 milhões. Já o volume caiu 75%, ante o primeiro bimestre do ano passado, quando foram roubadas 145 toneladas de cobre.

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 3)(Luciana Collet)