Título: 50 anos! Já faz tudo isso, bicho!
Autor: Staut,Alexandre
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/03/2009, Plano Pessoal, p. D1

São Paulo, 24 de Março de 2009 - O site de Roberto Carlos quase não dá pistas de seus passos, shows marcados ou entrevistas. Eis que há alguns dias, é noticiado que, depois de 11 anos sem fazer shows no dia de seu aniversário e de 15 anos sem se apresentar em Cachoeiro do Itapemirim (ES), cidade na qual nasceu, o músico inicia uma turnê nacional com um concerto, no Estádio do Sumaré, naquela cidade, em 19 de abril - dia em que completa 68 anos.

O evento marca os 50 anos de carreira do Rei, que serão celebrados ao longo deste ano.

O site traz mais notícias, para deleite dos fãs. Consta que a turnê será "inesquecível, repleta de emoções", que grandes divas brasileiras lançam CD com os sucessos de Roberto Carlos. E que parte para uma turnê internacional que visitará Nova York, Miami, São Francisco, Chicago, Washington, Boston, Orlando, Las Vegas, Los Angeles, México, Porto Rico, República Dominicana, Chile e Argentina.

Há mais novidades. Roqueiros nacionais lançam um CD com as músicas do Rei. Há ainda uma exposição, na Oca, em São Paulo, que trará fotos e objetos que contam estes 50 anos - entre os quais, o calhambeque que deu origem à música homônima, além de fotografias do arquivo pessoal, roupas e imagens de shows.

Isso sem falar da programação especial que será realizada pela Rede Globo e do CD e do DVD que serão lançados em breve.

Avesso a entrevistas, Roberto Carlos quebrou o gelo e resolveu falar ontem com jornalistas na sede do Itaú Cultural, do banco Itaú, que patrocina sua turnê.

Logo que entrou no local, vestindo jeans, sapatos brancos, camisa azul e blazer branco, olhou para o público e exclamou, bem-humorado: " 50 anos. Já faz tudo isso, bicho! ".

Roberto Carlos diz que escolheu 2009 para comemorar seus 50 anos de carreira, pois, foi em 1959 que cantou profissionalmente pela primeira vez. "Eu era crooner da boate do Hotel Plaza (Rio de Janeiro) e isso pra mim foi meu primeiro momento profissional, quando recebi meu primeiro salário. Ali foi um ponto importante, foi quando me senti um profissional da música", diz.

Mas comenta que se fosse considerar a vida de artista desde o momento em que começou a cantar, teria que comemorar mais anos, pois aos nove cantou pela primeira vez na Rádio Cachoeiro, em Cachoeiro do Itapemirim. "Cantava nesta época Bob Nelson, Nelson Gonçalves, boleros, tangos e músicas em espanhol. Sempre achei chique cantar nesta língua".

O que marcou o músico em todo este tempo? Após pensar alguns instantes, diz que foi o primeiro show na boate do Plaza, o primeiro disco, a Jovem Guarda. "Mas não sei explicar este sucesso todo".

Ele fala que tudo o que sente e vê pode virar canção, "desde que o tema seja o amor", diz ele, que pretende lançar um disco de inéditas ainda neste ano, logo após trabalhar o segundo volume do CD Duetos, que lança em breve.

Questionado sobre quais são as divas que encontrará no show marcado para o dia 26 de maio, no Teatro Municipal, de São Paulo, diz não saber ainda, mas conta que já está emocionado com o encontro. "São tantas emoções, como dizem meus imitadores. Vocês não sabem, mas os imito muito bem", diz, entre risos.

Entre tantas questões, perguntam se Roberto Carlos acredita que a crise econômica vai prejudicar os artistas nacionais. Ele diz que sim, certamente. "Mas, ao mesmo tempo, o povo vai querer estar mais perto dos seus artistas. Então o negócio pode não ser tão ruim assim", filosofa.

Roberto Carlos ainda diz que é muito autocrítico com sua carreira. "Fiz muita coisa exagerada no começo. Hoje, acho engraçado, mas não me incomodo muito com isso" , diz ele. "Sou tão autocrítico que não consigo mais fazer músicas tão rápido quanto fazia antes. Se compunha em três horas uma canção, hoje levo três dias, três meses. Fico trocando palavras, frases", diz ele, que ainda se incomoda com canções como "Quero que Tudo Vá para o Inferno". "Não consigo ainda cantar esta música, nem autorizo que outros a gravem. Como meus amigos me cobram muito sobre essa superstição, pode ser que no futuro eu mude de idéia", conta.

Por fim, questionado sobre sua biografia, recolhida das livrarias por decisão judicial, diz que pouco tem a dizer sobre o fato. "Já disse tudo, aliás, retirei o livro das livrarias. Isso mostra diz o que penso sobre o lançamento", diz ele, que pretende em breve contratar um escritor para lançar sua biografia autorizada. "Não será uma autobiografia, mas quero colaborar com o autor da obra", conta o músico.

O Itaú não revelou quanto vai investir no projeto Roberto Carlos 50 Anos. (Gazeta Mercantil/Caderno D - Pág. 1)(Alexandre Staut)