Título: BC prevê crescimento de 2,4% no gasto público
Autor: Aliski,Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 31/03/2009, Brasil, p. A4

Brasília, 31 de Março de 2009 - O Banco Central reconheceu que a redução da Selic não foi suficiente para conter a forte queda do Produto Interno Bruto (PIB), mas a crise teria sido eficiente para conter a alta da inflação. A receita do BC para enfrentar a crise é aumentar o gasto público para evitar índices ainda piores no crescimento da economia brasileira.

Ontem a autoridade monetária reduziu a previsão do crescimento do PIB de 3,2% para 1,2% no ano e da inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 4,7% para 4%. E ampliou de 2,2% para 2,4% a estimativa de crescimento dos gastos do governo em 2009.

O diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, disse que "em momentos de desaceleração, em geral, o gasto público tem efeito anticíclico", ao divulgar ontem o Relatório de Inflação do primeiro trimestre de 2009.

Para os agentes de mercado, entretanto, a nova aposta da autoridade monetária está equivocada. Conforme divulgou ontem o próprio Banco Central no boletim Focus, com dados obtidos a partir de pesquisa de expectativas junto a cerca de cem agentes de mercado, o Brasil terá PIB zero em 2009.

O BC tem duas previsões para a inflação, uma com cenário de mercado e outro de referência. No cenário de referência, que considera a manutenção da Selic de 11,25% ao ano, câmbio de R$ 2,35 por dólar, a inflação é de 4%. No último relatório era de 4,7%. No cenário de mercado, que considera alguns parâmetros de consenso no setor financeiro, como Selic de 9,75% ao ano e câmbio de R$ 2,30 por dólar, a nova projeção é que o IPCA de 2009 seja de 4,1%, frente projeção de 4,5% presente no relatório de inflação de dezembro. As novas estimativas, portanto, estão abaixo do foco principal do governo, que estabelece em 4,5% o centro da meta de inflação para o ano.

Para 2010, as novas projeções do BC para inflação medida pelo IPCA são de 4,2%, pelo cenário de referência, e de 4,4%, pelo cenário de mercado. No relatório anterior, as projeções para 2010 eram de 4,7% e 4,3%, respectivamente. "O recuo da projeção de inflação ao longo de 2009 e de 2010 reflete, fundamentalmente, os efeitos da elevação da ociosidade dos fatores de produção observada no quarto trimestre de 2008, que se sobrepõe aos efeitos da redução da taxa básica de juros determinadas pelo Copom em suas duas últimas reuniões", cita o relatório de inflação.

O documento prevê, ainda, que a agropecuária vai recuar 0,1%, frente estimativa anterior de crescimento de 2,2%. A produção da indústria avançará somente 0,1%, frente estimativa anterior de 3,4%. E o setor de serviços crescerá 1,7%, ante estimativa anterior de 3,1%. Na contramão do que ocorre em outros setores, o Banco Central ampliou de 2,2% para 2,4% a estimativa de crescimento dos gastos do governo em 2009. Mas nem mesmo setores ligados às despesas oficiais vão conseguir evitar os efeitos da crise. Para a indústria da construção civil, o BC prevê crescimento de 2,7% em 2009, contra estimativa anterior de 4,3%.

Vários trechos do relatório de inflação deixam claro que o comportamento do PIB em 2009 poderia ser bem pior caso o setor público não estivesse gastando. Ao explicar os motivos que levarão a um crescimento de 0,7% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), frente estimativa anterior de 4,4%, o relatório destaca que "a manutenção da variação positiva desse componente considera a contribuição das obras de infraestrutura do PAC e das medidas do governo visando estimular obras no âmbito da habitação popular; dos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para garantir recursos a investimento; e da continuidade dos investimentos em setores específicos, a exemplo de exploração de petróleo e gás natural".

O relatório traz também indícios de que o governo quer gastar mais para evitar ainda maior contaminação da economia, ao destacar a importância da possibilidade de redução em 0,5% na meta de geração de superávit primário, descontando valores aplicados no Projeto Piloto de Investimentos (PPI).

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Ayr Aliski)