Título: Governo Jango: paralelo só com a redemocratização
Autor: Nunes,Yacy
Fonte: Gazeta Mercantil, 31/03/2009, Brasil, p. A11

31 de Março de 2009 - Marco Aurélio Garcia, professor de história e assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tinha 13 anos quando Getúlio morreu. O avô era ligado a Borges de Medeiros, no Rio Grande do Sul. A família fazia oposição a Vargas. Ele ouviu a notícia pelo rádio. Testemunhou a revolta do povo nas ruas. "Atacaram o consulado americano, as Lojas Americanas, até uma boate. A perseguição aVargas, talvez possa ter sido semelhante à que, aconteceu com Jango, em 1964".

O golpe militar em Porto Alegre foi dramático. "Tínhamos a memória da legalidade. Caímos no dia 2 de abril. O chefe da polícia era amigo do meu pai. Mandou me dizer que eu devia cair fora. Viajei para o Uruguai, depois retornei ao Brasil. Em 1967 fui para a França, voltei em 1969, em 1979, caí na clandestinidade, era do Partido Operário. Tive que pedir asilo político no Chile. Trabalhei no . Para mim, em termos de violência, o golpe de Pinochet contra Allende, em 1973, foi muito pior. Tenho amigos que morreram. Fui parar na Embaixada da Guatemala, com José Maria Rabello, Theodoro Buarque de Holanda, Dalva Bonet, Teotônio dos Santos. Voltei ao Brasil e ajudei a construir o PT, com Lula, no final dos anos 70", lembra.

O assessor especial de Lula começou a conhecer Jango (vice-presidente) no governo de Jânio Quadros. "Eu era da UNE, em 1963 fui candidato a vereador pelo Partido Republicano. Jânio nos recebeu em Brasília, muito hostil, a princípio, depois muito simpático. O governo Jango foi cheio de esperança. Fiquei fascinado com a Universidade de Brasília, de Darcy Ribeiro (chefe do gabinete Civil de Goulart) . Não peguei muito o governo de JK. Mas o governo de João Goulart foi de muita efervescência cultural, não pode ser comparado a nada. As reformas de base, o engajamento político da juventude,o movimento sindical, o povo votando pelo presidencialismo no plebiscito em 1962, o Plano Trienal em 1963, a possibilidade da reforma agrária".

Segundo ele, o governo Jango talvez possa ser comparado ao movimento pela anistia e as eleições diretas, entre 1978 e 1985, com a criação da CUT e das centrais sindicais, ou ao primeiro período do governo Lula. "Foi na época de Jango que surgiram os grandes intelectuais, como Vianinha. O país hoje pulou para a esquerda. Antigamente, ser de esquerda era ser marginal."

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 11)(Y.N.)