Título: Coronéis contra aumento do salário mínimo
Autor: Nunes,Yacy
Fonte: Gazeta Mercantil, 31/03/2009, Brasil, p. A11

31 de Março de 2009 - Wilson Fadul, 85 anos, é ex-deputado federal pelo PTB do Mato Grosso e ex-ministro da Saúde de João Goulart. "O governo Jango era promissor. O PTB, com o Santiago Dantas, era um partido de massas, que estava crescendo e tinha uma proposta definida: a igualdade, que é melhor que a liberdade. Muita gente queria que o Santiago fosse o candidato à sucessão de Jango. Ele se preocupava com a vertigem com que Goulart administrava os fatos", relembra Fadul.

Dantas dizia que os fatos andavam muito rápido. "A primeira vez que ouvi a expressão Frente Ampla foi em uma fala dita por Santiago. Alguns políticos, ligados ou não a Jango, estavam preocupados com as eleições de 1965. Já viam a possibilidade disso não acontecer. Representantes de todos os partidos queriam assinar um manifesto."

O ex-ministro da Saúde estava com o presidente João Goulart, no Palácio Laranjeiras, no Rio, na noite do golpe de 31 de março de 1964. "Testemunhei um telefonema que Jango recebeu do Amaury Kruel. O ministro do Exército, que em 1954 assinou o Manifesto dos Coronéis contra o aumento de 100% que Getúlio Vargas deu ao salário mínimo."

Jango, ministro do Trabalho em 1954, disse ao presidente que os militares exigiam a demissão de comunistas de seu governo. "Jango pediu que ele evitasse o golpe. Mas isso não aconteceu. O presidente viajou de madrugada para Brasília e depois para Porto Alegre. Nunca mais vi o presidente. No dia 8 de abril, JK me disse que queria evitar as cassações. O Castelo Branco sabia que quem tinha força no Congresso Nacional era o JK. Castelo Branco não tinha nenhum prestígio, nem mesmo com os militares", detalha.

O marechal convocou uma reunião que deveria ter a presença de JK na casa do Joaquim Ramos, irmão do Nereu Ramos. "Estavam tambérm o Ulysses Guimarães, o Pacheco Chaves, o Negrão de Lima. Quando JK chegou, Castelo se levantou e disse: ""Meu presidente Juscelino, devo-lhe o fato de ter continuado na ativa . E, continuou: ""Meus companheiros de farda querem que eu seja presidente. Só serei se tiver o seu apoio"". Juscelino perguntou a Castelo: ""E o calendário eleitoral?"". Castelo disse: ""É ponto de honra de meu governo que as eleições de 1965 se realizem"". JK apoiou Castelo. Negrão de Lima se reuniu com Talarico, a Ivete Vargas, o Doutel de Andrade, o Reinaldo Santanna. Chamaram o Castelo por causa dos rumores que o general cassaria o JK. Castelo disse: ""Não tenho nada contra o JK."

No dia em que Juscelino foi cassado, Castelo ligou para a casa do Negrão. "Dona Ema atendeu. Quer que eu vá chamar o meu marido? Não, muito obrigado, só diga ao Negrão de Lima que eu telefonei, disse Castelo", lembra o ex-ministro de Jango.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 11)(Y.N.)