Título: Lamy alerta para bola de neve protecionista
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/04/2009, Internacional, p. A13

Genebra (Suíça), Londres e Berlim, 1 de Abril de 2009 - Pascal Lamy, diretor gerente da Organização Mundial do Comércio (OMC), pediu ontem que os países do G20 - grupo das principais economias desenvolvidas e em desenvolvimento do globo - reiterem e apliquem os compromissos que adotaram em novembro contra o protecionismo, temendo que a "derrapagem atual gere uma bola de neve" .

"O que eu espero do G20 são indicações tão claras quanto às de novembro e a adoção destes compromissos para resistir à tentação protecionista que está aí", disse Lamy, que participará amanhã da cúpula do G20 em Londres.

Lamy espera assim fazer um pequeno apelo à ordem, enquanto os dirigentes do G20, que haviam jurado em novembro que não cederiam às tentações do protecionismo, parecem estar se distanciando de suas promessas. "Os compromissos que eles assumiram em novembro não foram totalmente respeitados", disse.

De fato, um estudo das políticas comerciais dos 153 membros da OMC publicado semana passada revelou "um deslize significativo desde janeiro rumo às medidas que entravam o livre comércio". Este resultado corresponde a uma primeira análise feita pelo Banco Mundial (Bird) segundo a qual 17 das 20 nações membros do grupo adotaram medidas protecionistas depois de terem feito suas promessas. Segundo Lamy, não se trata de um "protecionismo de alta intensidade", como o que levou à Grande Depressão dos anos 1930, porque as regras da OMC o impedem. "Mas este protecionismo de baixa intensidade não é menos preocupante."

"No mundo globalizado, há um risco de este protecionismo de baixa intensidade provoque um efeito bola de neve" , explicou o diretor da OMC, temendo que esta tendência provoque uma derrapagem ainda maior em pouco tempo.

O risco maior é de o protecionismo prejudicar ainda mais o comércio mundial, já muito afetado pela queda drástica da demanda mundial. As previsões da OMC são sombrias para o comércio, com um recuo de 9% este ano, sua maior contração desde á segunda guerra mundial.

O G20 deve estudar a criação de fundos para financiamento das trocas hoje muito enfraquecidas que chegariam, segundo Lamy, a US$ 100 bilhões. O Banco Mundial os avaliou ontem em US$ 50 bilhões.

Para Lamy, entretanto, a conclusão da Rodada Doha, sobre a liberalização mundial do comércio continua sendo a melhor resposta ao reencaminhamento do comércio, que deve poder desempenhar um papel capital na retomada mundial. Ele espera, desta forma, que o G20 lance "um compromisso o mais firme possível para concluir as negociações de Doha o mais rapidamente possível porque este é o meio mais crível para preparar o futuro".

Mas as chances de avançar nestas negociações, iniciadas em 2001, dependem dos Estados Unidos, admitiu Lamy. Perseverante, como ele mesmo o descreveu, Lamy pretende convocar uma reunião ministerial para tentar avançar nas negociações apesar do fracasso de dezembro depois do apelo do G20 para concluir a rodada.

Os países do G20 devem ir ao encontro com grandes expectativas para medidas para amenizar os efeitos da crise econômica global. A Alemanha e a Rússia, por exemplo, pediram ontem aos parceiros do G20 a tomada decisões concretas para a reforma da economia mundial na cúpula de Londres. "A crise é um profundo corte. Podemos dizer que o mundo está numa encruzilhada, e em Londres temos de fazer um trabalho ambicioso, e não nos limitarmos a palavreado", disse a chanceler alemã Angela Merkel, após uma reunião em Berlim com o presidente russo Dmitri Medvedev.

Medvedev afirmou na ocasião apoio à proposta da chanceler para elaboração de uma Carta da Economia Sustentável, espécie de lei Fundamental para os mercados financeiros, destinada a impedir os excessos conducentes à atual crise.

No Japão, o primeiro-ministro Taro Aso disse que seu país desempenhará um "papel de liderança" na cúpula para que a economia mundial ganhe um acesso mais fluido ao capital que necessita".

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, advertiu que a França não aceitará nenhum consenso que ignore sua reivindicação de mais regulação financeira, ao tempo que minimizou os chamados dos EUA para aumentar os pacotes de estímulo. "A crise é muito grave para se permitir uma cúpula para nada", disse Sarkozy.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 13)(AFP e Agência Lusa)