Título: Um novo diálogo entre os EUA e a AL
Autor: Bozzo,Claudia
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/04/2009, Internacional, p. A14

São Paulo, 1 de Abril de 2009 - O secretário adjunto de Estado norte-americano para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, deu ontem uma entrevista em São Paulo, para falar sobre a próxima Cúpula das Américas, que será realizada em Trinidad Tobago, de 17 a 19 de abril.

A cúpula, que reunirá 34 líderes de "países democraticamente eleitos" marcará a presença do presidente Barack Obama em seu primeiro encontro com os países da América Latina. "E será uma importante oportunidade de diálogo dos EUA com os países da região. Isso vai enriquecer nosso relacionamento", afirmou o secretário.

Para Shannon, o que se verá a partir da reunião do G20, em Londres - que deve influenciar a cúpula de Trinidad Tobago - é que as crises geram oportunidades e "teremos o início de um novo tipo de diálogo entre os países desenvolvidos e as nações em desenvolvimento, com lugar para uma participação muito positiva do Brasil, do México e da Argentina".

"Vemos agora que as crises econômicas não são geradas nos países em desenvolvimento." E brincou, "no papel de uma pessoa loira de olhos azuis", que não tem certeza de concordar "tanto assim" com as declarações do presidente Lula, sobre os culpados pela crise.

Influência mudou

Shannon falou das relações dos EUA com a América Latina e disse discordar da idéia de que seu país tenha perdido influência na região: "O que mudou foi a natureza dessa influência, pois mudou a natureza de nossos parceiros. Vimos na última década ou mais, a emergência de países como o Brasil, não só como potência regional, mas sim global. A democracia consolidou-se, houve a adesão às reformas e economias de mercado, um importante processo de integração e o engajamento na globalização."

Thomas Shannon também não prevê grandes mudanças em temas como a suspensão do embargo a Cuba, ou o relacionamento entre os Estados Unidos e a Venezuela.

Quando lhe perguntaram se concorda com a opinião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que os EUA têm um discurso ambíguo em relação às energias renováveis, que inclui a imposição de elevadas tarifas sobre o etanol brasileiro, ele respondeu que os EUA deixaram evidente que têm um "claro compromisso com uma política ambiental não poluente e energias renováveis. Investimos bilhões de dólares em pesquisas e desenvolvemos um importante relacionamento com o Brasil, especialmente na área de biocombustíveis. E esse é um aspecto muito importante de nosso relacionamento, que obviamente aprofundaremos."

Contradições

Shannon observou, porém, que "como em qualquer economia, existem contradições e a questão das taxas e dos subsídios ao etanol de milho fazem parte de um programa de longo prazo de desenvolvimento de biocombustíveis. Espero que na evolução de nosso diálogo com o Brasil nesse campo, o Congresso americano perceba que é necessário adotar uma nova postura em relação ao tema".

Em relação a Cuba, Shannon disse que uma provável abertura, se vier, ocorrerá em etapas, mas de forma muito lenta. "De qualquer forma, ele conclui, "nosso relacionamento com Cuba é muito difícil e isso data de 50 anos. O governo Obama decidiu que nós vamos abordá-lo cuidadosa e atentamente. O assunto por certo será debatido no encontro."

Shannon informou ainda que a administração Obama está analisando a viabilidade do Muro que os EUA estavam construindo na fronteira com o México, como a secretária de Estado Hillary Clinton deixou claro em sua recente viagem ao México.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 14)(Claudia Bozzo)