Título: Petrobras negociará gás no mercado à vista
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Fonte: Gazeta Mercantil, 01/04/2009, InfraEstrutura, p. C6

Rio de Janeiro, 1 de Abril de 2009 - A queda do consumo de gás natural no Brasil, em grande parte refletindo a ausência das usinas térmicas na geração elétrica, fez a Petrobras entrar no mercado à vista (spot, ou mercado de curto prazo) de venda do combustível , com o primeiro leilão eletrônico previsto para 15 de abril.

Segundo o presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, a expectativa é de que o preço do gás no mercado spot seja melhor do que o praticado nos contratos de longo prazo. "Esperamos que as diversas distribuidoras compitam entre si", disse Gabrielli após palestra para executivos de finanças no Rio de Janeiro.

O executivo não soube informar o volume que será negociado, mas, de acordo com números recentes da companhia, cerca de 15 milhões de metros cúbicos estariam disponíveis. A Petrobras, porém, informou em seu site que os acordos comerciais envolverão "volumes para consumo em até dois meses, dentro do limite de disponibilidade da entrega de gás e a preços competitivos, frente ao óleo combustível".

Gabrielli explicou que, mesmo com a queda da demanda por alguns setores, as distribuidoras vão participar se tiverem interesse na venda de curto prazo. "As distribuidoras que farão isso são as que têm alternativa de venda de curto prazo, no máximo dois meses", disse o presidente.

O executivo lembrou que apesar das usinas térmicas não estarem utilizando o gás natural, devido ao preço do produto em relação ao óleo diesel e ao grande volume de energia hidrelétrica no País, a Petrobras tem que manter a infraestrutura para quando for necessário e por isso precisa manter a rentabilidade da área. A Petrobras produziu cerca de 48 milhões diários de metros cúbicos de gás natural em fevereiro e desde o agravamento da crise tem importado cerca de 19 milhões de metros cúbicos diários da Bolívia, de um contrato que prevê a compra de até 30 milhões diários. A estatal construiu dois terminais de Gás Natural Liquefeito (GNL) para atender as térmicas em caso de necessidade e estuda erguer mais dois, ainda sem local definido.

Melhora das vendas

As vendas de combustíveis da Petrobras em março foram melhores do que no mesmo mês do ano passado e os preços das licitações para os projetos da estatal a cair, disse ontem Gabrielli, que, mesmo assim considera, cedo para se falar em recuperação da demanda. "É um sinal de que a economia tem uma certa recuperação, que ninguém sabe o tamanho dela, mas é um indicador", avaliou. "Mas é difícil dizer a tendência com apenas essa observação", ressaltou.

Apesar de otimista com as indicações de melhora, Gabrielli observou que é necessário mais tempo para confirmar a tendência e lembrou que os fornecedores da companhia podem ter problemas de financiamento se a crise se agravar.

Sem falar em números, Gabrielli informou que o valor das licitações da empresa começa a refletir a queda do preço do petróleo, o que poderá baratear os custos dos projetos da Petrobras, que planeja investir R$ 60 bilhões ano e US$ 174,4 bilhões de 2009 a 2013. "Nas licitações atuais os preços estão menores do que nós esperávamos, estamos vendo mais empresas concorrendo e menos prazo para execução dos projetos", disse o executivo.

Gabrielli observou que, apesar da Petrobras já ter praticamente garantido os recursos para os investimentos de 2009 e 2010, seja por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou bancos privados, um possível agravamento da crise de financiamento pode afetar seus fornecedores e comprometer o ritmo dos investimentos da empresa. "Isso pode fazer com que o problema dos fornecedores seja ainda mais grave do que o nosso e nós tenhamos que deslocar recursos para viabilizar, manter o ritmo desses fornecedores, e pode significar a gente ter que atenuar o ritmo de crescimento do nosso investimento em função disso", afirmou durante palestra.

O presidente da Petrobras avaliou, no entanto, que a crise financeira não deve continuar em 2011 e por isso não aposta em riscos para a financiabilidade da Petrobras e nem da execução do plano quinquenal da companhia, que equivale a um investimento de US$ 100 milhões por dia. "E como nós achamos que nossos projetos são viáveis, precisamos manter os fornecedores fornecendo", disse o executivo, informando que até o momento nenhum deles bateu na porta da companhia para pedir ajuda.

O executivo lembrou que já foram criados fundos de investimento creditórios para ajudar a capitalização da indústria e desde dezembro a Petrobras tem antecipado o pagamento para as empresas que pedem. Em dezembro foram antecipados R$ 480 milhões e em janeiro, R$ 780 milhões.

Gabrielli não soube informar o desempenho em março, que segundo o diretor financeiro da estatal, Almir Barbassa, em entrevista recente, teria ficado abaixo de fevereiro. "Quem quiser antecipar (capital de giro) pode nos procurar", afirmou Gabrielli.

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 6)(Reuters)