Título: Bolsa ensaia recuperação e registra ganho de 9% no ano
Autor: Pinheiro,Vinícius
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/04/2009, Finanças, p. B1

São Paulo, 1 de Abril de 2009 - O mercado de ações brasileiro começa a dar os primeiros sinais de bonança após a tempestade que abalou o sistema financeiro global e ganhou contornos dramáticos desde a quebra do banco de investimento Lehman Brothers, em setembro do ano passado. O Ibovespa, principal índice acionário da BM&F Bovespa, acumulou alta expressiva de 8,98% nos três primeiros meses deste ano. Foi o primeiro trimestre no azul desde o período entre abril e junho do ano passado, quando a bolsa subiu 6,6%, ainda sob o impacto da conquista da classificação de grau de investimento pelo Brasil. No pregão de ontem, o Ibovespa subiu 0,67%, para 40.925 pontos.

Com a valorização de 7,18% registrada em março, a bolsa apresentou o melhor desempenho entre as aplicações financeiras no mês e no ano. Outro sinal do bom momento foi a volta dos estrangeiros, cujo fluxo de investimento encontra-se positivo em R$ 2,2 bilhões no acumulado do ano até o último dia 26. Para os especialistas em mercado financeiro, no entanto, ainda é cedo para falar em um novo ciclo de alta para as ações. Ao contrário, o grau de incertezas no horizonte deve fazer com que a bolsa brasileira acompanhe de perto a volatilidade internacional, apesar do descolamento verificado neste início de ano.

Na análise do economista-chefe da Ágora Corretora, Álvaro Bandeira, o bom desempenho do mercado acionário em março, não apenas no Brasil como em todo o mundo, embora não represente uma tendência, pode ao menos sinalizar que as bolsas já conheceram o fundo do poço. "Diante do que aconteceu nos últimos meses, o resultado do primeiro trimestre tem que ser comemorado."

Bandeira avalia que a suave melhora no cenário e na percepção dos investidores serão testados já a partir de amanhã, com o início da reunião do G20, que reúne os chefes de estado dos principais países desenvolvidos e emergentes. As decisões sobre regulação e medidas antiprotecionistas que sairão do encontro estão entre as principais preocupações. "Se tivermos uma resposta boa a temas como a coordenação das medidas de combate à crise, a tendência é de que o mercado siga em recuperação", diz.

Após uma recuperação no início do ano comandada pela alta na cotação das commodities (matérias-primas), a bolsa brasileira voltou a sucumbir em fevereiro acompanhando as ameaças de estatização dos principais bancos nos Estados Unidos. Esse temor só diminuiu no mês seguinte, com o detalhamento do plano de resgate do setor financeiro pelo secretário do tesouro norte-americano, Timothy Geithner. "O esforço do governo Obama para conter os efeitos da crise talvez tenha sido a grande surpresa positiva para o mercado", diz Felipe Casotti, gestor de renda variável da Máxima Asset Management. No total, o pacote americano já beira os US$ 3 trilhões.

Foi justamente após o anúncio dos detalhes do plano de estímulo à compra de ativos tóxicos dos bancos que as bolsas internacionais - em especial as dos EUA e Europa - voltaram a dar sinais de vida. Em março, o índice S&P 500 acumulou alta de 8,5%, o melhor resultado desde outubro de 2002. Apesar do resultado, o indicador acumula perdas de 11,7% nos três primeiros meses do ano.

Apesar da melhora no ambiente de negócios, Casotti ainda não vê motivos para otimismo, ao menos no curto prazo. "A bolsa costuma se antecipar a movimentos de recuperação econômica, mas nem sempre o faz de modo correto", pondera. O gestor afirma que o leilão de ativos tóxicos ainda precisa mostrar que terá demanda e capacidade de apresentar preços justos, ou uma nova onda de perdas contábeis dos bancos pode voltar a assolar o mercado, o que fatalmente atingirá as ações.

Ver também páginas B2 e B3(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Vinícius Pinheiro)