Título: Embraer não vê recuperação este ano
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Fonte: Gazeta Mercantil, 30/03/2009, Transportes, p. C6

São Paulo, 30 de Março de 2009 - A Embraer ainda não vê sinais de melhora do mercado depois de divulgar seu segundo prejuízo trimestral consecutivo. A empresa diz que clientes enfrentam dificuldades de financiamento e que novas vendas de aeronaves seguem bastante fracas.

A companhia, que fechou o quarto trimestre com prejuízo líquido de R$ 40,6 milhões, após resultado negativo de R$ 39,2 milhões no período anterior, informou também que vai propor não pagar dividendos aos acionistas relativos aos últimos três meses de 2008 e que vai reduzir pagamentos de executivos este ano.

A empresa, que anunciou demissão de 20% de sua força de trabalho em fevereiro, diz estar fazendo um esforço "muito grande" para reduzir estoques de componentes usados na produção de seus aviões e que vai precisar mais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para os financiamentos de entregas a seus clientes.

"Temos vendido muito pouco... o efeito mais agudo da crise está na questão do crédito; clientes que já compraram, mas não têm financiamento" para pagar a entrega, afirmou o presidente-executivo da Embraer, Frederico Curado. "O que vinha sendo nossa vantagem -o crescimento dos mercados internacionais- agora é desvantagem."

Segundo o executivo, 11% das entregas da Embraer foram financiadas pelo BNDES em 2008. No ano anterior, a companhia não havia precisado do apoio da instituição para suas entregas. Já para 2009, a expectativa é que "25 a 30% das entregas serão financiadas pelo banco", disse Curado.

A Embraer passou a prever entregas de 242 aviões em 2009, depois de chegar a estimar em outubro passado que as entregas chegariam a 350 unidades este ano. A previsão de faturamento encolheu de US$ 7,1 bilhões para US$ 5,5 bilhões. Em 2008, a fabricante entregou volume recorde de 204 aeronaves, 20,7% mais que em 2007.

Perguntado sobre eventuais sinais de melhora da indústria no final deste trimestre, após divulgação de dados relativamente positivos da economia dos Estados Unidos e da China nas últimas semanas, o vice-presidente de finanças da Embraer, Luiz Carlos Aguiar, não mostrou muito entusiasmo.

"A indústria de bens de capital é a primeira a entrar na crise e a última a sair", comentou. Uma eventual mudança nas tendências de compra das companhias aéreas, de aeronaves maiores para menores ainda não se verificou, afirmou.

A eventual venda de 20 aviões modelo 190 para a Aerolíneas Argentinas ainda não se confirmou e as negociações da Embraer com a empresa "não têm previsão de acabar", disse Aguiar. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio confirmou que o Brasil emprestará US$ 700 milhões para a estatal argentina adquirir as aeronaves. Apesar da redução nos investimentos em 2009, de US$ 442 milhões para US$ 350 milhões, Curado afirmou que a Embraer manterá o ritmo de desenvolvimento.

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 6)(Reuters)