Título: Governo e empresas buscam novos mercados
Autor: Lorenzi,Sabrina ; Pacheco,Natalia
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/04/2009, Brasil, p. A10

8 de Abril de 2009 - Para driblar a crise de consumo das maiores economias do mundo, governo e empresas brasileiras resolveram partir para novos mercados. São alvos de negócios nações que têm pouca ou nenhuma tradição nas relações comerciais com o Brasil, como países do Ásia Central, emergentes da África, do Leste Europeu e os vizinhos latino-americanos.

"Se podemos ter um comércio de US$ 30 bilhões com a Argentina, por que temos só US$ 3 bilhões com a Colômbia, que também é grande? É apenas um exemplo do potencial que temos de aproveitar", afirmou o secretário executivo do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ivan Ramalho. O Brasil tem negociações bilaterais com todos os países latino-americanos, segundo ele. "Temos trabalhado para eliminar burocracias e dificuldades que atrapalham as trocas com os vizinhos."

Casaquistão, Quirgstão, Tadjiquistão, Turcomenistão, Uzbequistão. Países nunca ou raramente mencionados por brasileiros emergiram do discurso do embaixador para a Ásia João Gualberto Marques Porto, durante a conferência "Crise Mundial: as oportunidades para o Brasil", realizado pelo grupo Companhia Brasileira de Multimídia (CBM) na Escola Superior de Guerra, no Rio. Porto defendeu o fortalecimento das relações comerciais de potências tradicionais como China e Índia, mas frisou que a entrada nesses países tem caráter estratégico e está sendo explorada por poucos.

Além dos países da Ásia Central, Porto frisou o potencial que países como Geórgia, Ucrânia e Azerbaijão podem representar para o Brasil, assim como Moçambique, Angola e África do Sul. Os três países africanos são potenciais mercados não apenas de produtos, mas principalmente regiões que desenvolvem um novo modelo econômico.

Já os vizinhos da Rússia, como Ucrânia e Geórgia, apresentam enormes reservas de petróleo e dinamismo econômico, o que favorece a instalação de novas companhias na região, segundo Porto. "Toda essa área que saiu da antiga União Soviética está vindo a tona. Tanto que a Rússia dedica atenção a essa região. A aproximação com esses países tem caráter estratégico, não apenas no âmbito da parceria econômica, mas também no intercâmbio acadêmico e de conhecimento" ressaltou o embaixador.

No caso da África, a parceria é importante, mas está mais relacionada com solidariedade. "Nós somos o irmão que deu certo. O Brasil tem investido muito na África para consolidar a nossa expansão até porque a China também está lá. A Ásia é muito mais urgente e promissora" explicou.

No caso de Índia e China, a relação tem que se aprofundar mais, já que o Brasil exporta basicamente matérias-primas para esses países. Quem se beneficia mais é a própria China, segundo o embaixador, já que o país asiático vende produtos industrializados para o Brasil.

Novos mercados

"Vamos exportar matéria-prima, já que somos imbatível no agronegócio, e também manufaturados e tecnologia. Não podemos deixar que as balanças comerciais se façam em detrimento da tecnologia" destacou Porto.

A Embraer busca novos mercados para compensar a queda nas vendas de mercados tradicionais. O vice-presidente para o mercado de aviação da Embraer, Mauro Kern, revela que a estratégia da empresa passa pelo potencial da América Latina. Por razões estratégicas, o executivo não conta em que países a empresa pretende ou já começou a ampliar sua presença, mas lembrou que a Embraer cresceu mais em países como México, Colômbia, e El Salvador nos últimos anos do que no resto do mundo.

A Nitro Química, do grupo Votorantim, colhe hoje os frutos da diversificação das exportações. A empresa vende seus produtos para 68 países e vai aumentar o leque para 80 nações diferentes. A expectativa é ampliar as exportações em 10%, em plena crise mundial. "Nunca pensei que fosse dizer no exterior que o Brasil está melhor que o resto do mundo. Não é marolinha, mas o impacto aqui é menor", afirmou Sérgio Pereira, gerente de mercados Internacionais da Nitro Química, braço do grupo Votorantim para produtos químicos. Fornecedora de nitrocelulose, ácido fluorídrico e fluoreto de alumínio, a empresa tem cerca de 60% do faturamento atrelado a vendas externas.

Pereira defendeu durante o seminário o fortalecimento das vendas externas de pequenas e médias empresas, tal como acontece em países europeus como a Itália. No Brasil, as 250 maiores empresas exportadoras concentram 68% das vendas externas.

Recuo nas exportações

A Unimonte (Centro Universitário Monte Serrat) levou seus serviços de educação para a África. Atua em Moçambique e Angola. O diretor de Relações Comerciais e Marketing da Unimonte, Fábio Pereira, vislumbra em Maputo, capital de Moçambique, oportunidades geradas pela vizinha África do Sul, com a Copa do Mundo. Maputo fica a menos de uma de Johannesburgo de avião.

As exportações brasileiras devem recuar 7% neste ano, segundo projeções do governo. É uma taxa expressiva, mas melhor que a de países como Coréia do Sul (-13,6) e Estados Unidos (9,6%). A Embraer prevê a retomada das vendas de aviões em breve, mas pondera que serão menores do que o volume praticado nos anos anteriores ao colapso mundial.

A Embraer planejava vender até 350 aeronaves antes da crise. Em fevereiro, a previsão murchou para a entrega de 242 aviões. Na aviação executiva, o tombo foi de 31%.

Com os número sombrios, a empresa tenta justificar as demissões de 4,2 mil pessoas. A retomada das vendas deve fazer a empresa recontratar uma parcela dos funcionários dispensados, como já aconteceu antes. Em 2001, a recessão no exterior levou a empresa a cortar 1,8 mil funcionários. Passada aquela crise, foram contratados 6 mil até 2008, dos quais muitos faziam parte do grupo de demitidos em 2001.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 10)(Sabrina Lorenzi e Natalia Pacheco)