Título: Intervenção impõe risco mundial à Vale
Autor: Vieira, Marta ; Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 25/03/2011, Economia, p. 8

Os efeitos colaterais da investida do governo para trocar o presidente da Vale, Roger Agnelli, pozação das ações da companhia já observada neste ano ¿ ontem, os papéis preferenciais da mineradora sofreram nova queda, de 1%. Empresários, executivos do setor e analistas de investimentos alertam que a ingerência estatal sobre a Vale pode comprometer a capacidade de competição da segunda maior mineradora do mundo e afetar até mesmo a percepção do Brasil no exterior. O governo deseja chegar a uma solução para a troca de comando até 9 de abril, data da viagem da presidente Dilma Rousseff à China.

Para um tarimbado executivo da indústria da mineração, a interferência do governo vai arranhar a imagem do país como porto promissor de investimentos e pode, sim, atrapalhar a Vale na disputa com concorrentes do peso do setor, como a angloaustraliana Rio Tinto e o grupo Anglo American, além da líder do mercado, a também angloaustraliana BHP Billiton. ¿Nunca houve esse tipo de ingerência nas maiores companhias do mundo como na Vale¿, disse. ¿Cria-se uma imagem que se acreditava superada e o temor de que o Brasil se transforme numa Venezuela¿, acrescentou, em referência à política estatizante do presidente Hugo Chávez.

Arrojo O desempenho da Vale nos últimos anos, sob o comando Agnelli, permitiu que a companhia saísse da 10ª posição no ranking mundial das maiores mineradoras para o segundo lugar. De 2001 a 2010, a empresa criou R$ 194 bilhões em valor para os seus acionistas e distribuiu, no período, R$ 17,4 bilhões em dividendos. ¿Mineração é um negócio globalizado, altamente competitivo¿, argumentou Rafael Weber, analista de mineração e siderurgia do Banco Geração Futura. Um empresário do setor e acionista da Vale saiu em defesa da gestão Agnelli, executivo que, a seu ver, mostrou uma visão arrojada ao bater na mesa dos clientes chineses e conseguir preços de US$ 160 por tonelada de minério de ferro ¿ a matéria-prima era vendida a US$ 16 às vésperas da privatização.

Após acionistas e funcionários se manifestarem contrariamente à saída de Agnelli, políticos da oposição também acusaram o governo de tentar aparelhar a mineradora. ¿Se a influência do governo na indicação de um presidente de empresa privada é possível, então a iniciativa privada deveria indicar o presidente da Petrobras. Não entendemos o porquê dessa ingerência¿, disse o senador Cyro Miranda (PSDB-GO), autor do convite para que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vá ao Congresso explicar a ingerência do governo na Vale.

O senador tucano Aécio Neves (MG) defendeu o direito de os demais sócios da Vale escolherem o presidente da companhia. ¿Isso deve ser feito, como ocorre em qualquer outra empresa privada, à luz do dia, na discussão do Conselho de Administração, em que as razões para essas substituições sejam discutidas, até para que outros acionistas que tenham opiniões divergentes possam manifestar sua posição¿, defendeu. O senador Itamar Franco (PPS-MG) engrossou as críticas: ¿Por que interferir em uma empresa privada? O governo quer reestatizar?¿