Título: Mais R$ 43 bi de dívida
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 25/03/2011, Economia, p. 10

O governo aumentou sua dívida em 2,63% no mês passado, encerrando fevereiro com um total de R$ 1,671 trilhão em papéis emitidos no mercado ¿ foram quase R$ 43 bilhões a mais do que em janeiro. O montante deve crescer ainda mais, uma vez que o Tesouro Nacional informou ontem ter ampliado, em março, o endividamento em R$ 5,25 bilhões para reforçar o caixa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

(BNDES). A operação foi autorizada por medida provisória que previu uma injeção de até R$ 30 bilhões na instituição em setembro de 2010 ¿ na ocasião, foram emitidos R$ 24,75 bilhões. Além das transações já realizadas, outra MP editada este ano autorizou novo aporte ¿ este de R$ 55 bilhões ¿ ainda não realizado.

A estratégia de fortalecer o BNDES, adotada na época da crise, continua a ser conduzida, mesmo em um momento em que o governo luta para domar a disparada da inflação e tenta acomodar uma redução de R$ 50,7 bilhões nos gastos públicos. Para especialistas ouvidos pelo Correio, a política de reforço ao banco de fomento tem o seu viés positivo, uma vez que favorece o financiamento de investimentos. A curto prazo, porém, ela aumenta as pressões sobre a inflação e, por consequência, obriga o Banco Central a elevar os juros, expandindo ainda mais as despesas com a dívida pública.

Para o economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, Alex Agostini, o governo está diante de um dilema: reduzir os gastos públicos e não cortar investimentos. ¿As emissões para o BNDES são relativamente boas, porque mantêm o fôlego da instituição e, de qualquer forma, o banco ainda obtém lucro. Mas ainda é um problema, porque continua aumentando as despesas¿, ponderou.

Estrangeiros

Na avaliação do economista Felipe Salto, da consultoria Tendências, ainda que a política de subsidiar investimentos via BNDES seja alvo de críticas, a diminuição dos aportes ao banco é favorável. A seu ver, mais do que reduzir as emissões em favor da instituição, o Tesouro precisa buscar a melhoria do perfil da dívida pública, diminuindo a parcela de papéis que remuneram o investidor (e oneram o governo) com base na taxa básica de juros (Selic). ¿Essa fatia já foi muito maior e hoje é um terço do total da dívida, mas precisa diminuir para evitar, por exemplo, que qualquer alta da Selic feita pelo Banco Central se transforme em mais custos para o governo¿, afirmou.

A participação de não residentes (estrangeiros) na dívida interna brasileira caiu em valores absolutos pelo segundo mês consecutivo, somando R$ 180,7 bilhões, reduzindo também a fatia desses investidores de 11,8% para 11,4% do total. Para o coordenador de Operações da Dívida Pública, Fernando Garrido, a queda ainda não é suficiente para indicar uma fuga de capitais externos. ¿Foi uma movimentação muito pequena. A gente não pode considerar como indicador de tendência¿, afirmou. Ele reconheceu, no entanto, que a cobrança de 6% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no ingresso de recursos desestimula os investidores de fora.

Reforço de caixa

Em 2009, em função da escassez de liquidez da economia, o Tesouro injetou R$ 100 bilhões no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No ano seguinte, foram feitas emissões de R$ 80 bilhões e de R$ 30 bilhões ¿ parte delas utilizadas para capitalizar a Petrobras. Com os valores programados para 2011, o reforço no caixa da instituição deve chegar a R$ 265 bilhões em três anos.