Título: Destino de Bandarra na pauta
Autor: Bernardes, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 25/03/2011, Cidades, p. 27

Os destinos de Leonardo Bandarra, ex-procurador-geral do Distrito Federal, e da promotora Deborah Guerner estão prestes a ser selados. O relator do processo administrativo disciplinar que tramita contra eles, Luiz Moreira, já comunicou aos integrantes do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) que levará o caso a julgamento na sessão de 6 de abril. Como o processo corre em segredo de Justiça, não se sabe se a reunião será aberta.

No ano passado, os dois promotores foram denunciados ao Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região por crime e concussão e formação de quadrilha. Eles teriam vendido informações estratégicas de investigações do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Ambos também respondem por extorsão ao ex-governador José Roberto Arruda (sem partido). Bandarra teria ajudado Deborah a exigir de Arruda pagamento para não divulgar a gravação em que ele aparece recebendo dinheiro do então presidente da Codeplan, à época, Durval Barbosa, em 2005.

Bandarra foi acusado ainda de tentar interferir em uma investigação conduzida pelo promotor Mauro Faria Lima, que apurava suspeita de que a cúpula da Polícia Militar do DF teria desviado cerca de R$ 1 milhão por meio de contratos de manutenção da frota. Em maio de 2009, Mauro Lima ofereceu denúncia contra os coronéis Antônio Cerqueira ¿ então comandante da PMDF ¿ Nildo João Fiorenza e Antônio Carlos de Sousa, dois tenentes-coronéis, um capitão e um sargento de peculato, crime cometido por funcionário público contra a administração-geral. O caso acabou derrubando todo o comando da Polícia Militar.

Pressão Convocado para depor na procuradoria e no conselho do MP, Mauro Faria relatou ter sido procurado em sua casa por Bandarra. O ex-procurador teria dito que estava ali a pedido do então governador José Roberto Arruda (sem partido) para pedir que ele excluísse Cerqueira da denúncia. Procurado pelo Correio, Mauro Faria confirmou o que disse em depoimento. ¿Fui procurado em casa pelo Bandarra e ele falou: `Tio Mauro, vou te falar como o Arruda pediu para eu falar. Ele pediu para você tirar o Cerqueira da denúncia¿. Eu disse: `Bandarra você me conhece há 20 anos. Você sabe que eu não faço uma coisa dessas. Se eu não tivesse certeza de que o comandante-geral tem responsabilidade criminal, eu não o denunciaria¿¿, relatou o promotor.

Depois do episódio, Mauro Faria pediu transferência da Promotoria Militar e atua, desde o início de 2010, em uma promotoria criminal no Gama. Antes disso, respondeu a um processo disciplinar protocolado por policiais militares. Foi inocentado das acusações em 15 de dezembro de 2009, semanas após a Polícia Federal deflagrar a Operação Caixa de Pandora, que tornou público um dos mais bem documentados esquemas de corrupção do país. As imagens, reveladas depois da operação, contribuíram para a cassação de Arruda e ainda expuseram o envolvimento de integrantes do MP no esquema de corrupção.

Ainda pesam sobre Bandarra e Deborah Guerner suspeitas de favorecimento a empresas de coleta de lixo. A situação deles é considerada gravíssima, já que há o risco de serem punidos, em âmbito administrativo, com a demissão, segundo estabelece a Lei Complementar n.º 75/93, que rege o Ministério Público da União (MPU). Isso ocorrerá caso o CNMP entenda que as evidências contra os dois são consistentes. Porém, a exoneração dependerá de decisão judicial transitada em julgado (leia quadro). A defesa de Bandarra nega todas as acusações e afirma que ele é vítima de vingança de Durval Barbosa, autor das denúncias, por conta de sua atuação no comando do Ministério Público do DF.

Carreira de sucesso Bandarra tomou posse no cargo de procurador-geral de Justiça do DF em julho de 2006. Antes de ser nomeado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele havia integrado, por três vezes, a lista tríplice eleita entre a classe para a disputa do cargo de chefe do MPDFT.

Em duas situações, foi o mais votado pelos colegas.