Título: Solução para compra de trigo provoca divergência no governo
Autor: Tenório,Roberto
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/04/2009, Agronegócio, p. B11

São Paulo, 9 de Abril de 2009 - A busca por uma solução eficiente para abastecer o mercado brasileiro de trigo durante este ano já provoca divergências no Governo Federal. O Ministério da Agricultura (Mapa) afirma que a isenção da tarifa de importação do grão fora do Mercosul não será discutida até que toda a safra de 2008 seja comercializada. No entanto, representantes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) confirmam que novas compras do grão serão autorizadas assim que a Argentina confirmar as perdas (ver mais na página A8).

A cautela do Mapa foi motivada pelas experiências negativas no mercado interno após a isenção da tarifa de importação do trigo no ano passado. A demora na autorização para compra de 2 milhões de toneladas do cereal nos Estados Unidos e Canadá fez com que o volume desembarcasse no Brasil em plena safra nacional. A Medida Provisória que derrubou a Tarifa Externa Comum (TEC) de 10% vigorou entre maio e setembro de 2008.

Para analistas, esse fator foi fundamental para derrubar as cotações e forçar um maior apoio do governo na comercialização. Estima-se que mais de R$ 200 milhões dos cofres públicos foram gastos com Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) e Aquisições do Governo Federal (AGF) para garantir a remuneração do produtor. No total, o plano garantiu 2 milhões de toneladas de trigo (33% da produção), porém as indústrias e os produtores usaram apenas uma parte desse volume, que ainda não foi contabilizado.

A falta de liquidez do trigo é o principal problema apontado pelos produtores. Porém lideranças do setor afirmam que a reação do governo foi eficiente e evitou problemas maiores. "Parece que os problemas recorrentes na Argentina fizeram o governo apostar de vez na safra nacional", avalia Flávio Turra, gerente técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). Segundo disse, o produtor paranaense ainda está com 650 mil toneladas (20%) da safra antiga na mão.

O reajuste nos preços mínimos é apontado por Turra como o principal motivador para o plantio neste ano. Conforme a cooperativa, 10% de um total de 1,2 milhão de hectares já estão plantados. "A área cresceu 5% e esperamos uma produção igual a de 2008, que atingiu 3,2 milhões de toneladas", completa.

Conforme dados da Safras & Mercado, a produção nacional pode atingir 6,2 milhões de toneladas neste ano, dependendo dos fatores climáticos. A área também deve crescer, atingindo cerca de 2,5 milhões de hectares. "A elevação do preço mínimo e a expectativa de redução do custo empolgou o produtor. Além disso, temos a quebra na Argentina, principal fornecedor do País, que oferece boa oportunidade". Analistas do país vizinho, principal opção de compra do Brasil, dizem que os produtores enfrentam a pior seca das últimas décadas.

Para se precaver de mais imprevistos, o governo federal enviou em fevereiro uma comitiva de técnicos brasileiros à Rússia para avaliar as condições sanitárias do trigo produzido naquele país. "Visitamos o porto de Novorossyisk, o principal do país, assim como os laboratórios, as condições de limpeza e aplicação de defensivos contra pragas. Tecnicamente não há nada que impeça exportações para o Brasil", revelou Ricardo Kobal Raski, fiscal agropecuário da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) e coordenador da grupo de trabalho para área vegetal da Rússia. "Dessa maneira, as compras já podem ser autorizadas", completa.

Valdir Colatto, deputado federal (PSDB-SC) e presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, afirma que uma comitiva russa visitará o Brasil ainda neste mês para avaliar a carne suína e concretizar a troca pelo trigo. "Não há lei que proíba troca entre as empresas. Além disso, o Brasil vai precisar de trigo para suprir seu consumo de 11 milhões de toneladas".

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 11)(Roberto Tenório)