Título: Posse de Paulo Renato vira ato político pró-Serra
Autor: Lavoratti,Liliana
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/04/2009, Brasil, p. A12

São Paulo, 14 de Abril de 2009 - A cerimônia de posse do ex-ministro e deputado federal licenciado Paulo Renato Souza na Secretaria de Educação do governo paulista, ontem no Palácio dos Bandei-rantes, em São Paulo, serviu de palco para um quase lançamento da candidatura do governador de São Paulo José Serra (PSDB) à presidência da República no próximo ano. Além dos elogios recebidos por todos os que discursaram pelas "qualidades de administrador público", o governador tucano recebeu vários aplausos e foi alvo até de um entusiasta "nosso futuro presidente da República, não tem para ninguém", disparado por um popular quando Serra começou a discursar para uma platéia de cerca de 200 presentes que lotaram o salão de eventos do Palácio.

Numa demonstração de que a campanha pela sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi antecipada não apenas por iniciativa do Palácio do Planalto, o maior propagandista da candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas também pela oposição, os dirigentes da aliança PSDB-Democratas não perderam tempo. Deputados federais e estaduais, vereadores, prefeitos, secretários estaduais e municipais e também dos presidentes do PSDB e de seu aliado DEM compareçam em peso à transmissão de cargo de secretário de Educação do estado de São Paulo - ocupado durante os últimos vinte meses pela técnica Maria Helena Guimarães Castro, substituída agora por um político.

Este é o segundo lance político de Serra junto a seu secretariado. Em janeiro, ele empossou na secretaria de Desenvolvimento, uma das mais estratégicas de sua gestão, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, em um gesto de aproximação com quem teve disputas internas no partido. Já Paulo Renato perdeu para o deputado José Aníbal (SP) a disputa pela liderança do partido na Câmara dos Deputados em fevereiro. Após a derrota, ele e outros parlamentares fizeram um movimento para destituir Aníbal, que ainda assim permaneceu à frente da bancada.

A troca no comando da Educação acontece num momento de más notícias na área - que ao lado da saúde, é forte reduto petista. A socióloga Maria Helena Guimarães de Castro deixou o posto em meio ao episódio em que livros didáticos enviados às escolas estaduais continham erros de geografia. Outro problema foi a revelação de que o estado mais rico da federação concentra 1,4 milhão analfabetos e só fica atrás da Bahia. O número representa 10% de toda população do país que se encontra nessa situação, de acordo com informações da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa. Recentemente também foi divulgado levantamento dos conselhos tutelares, indicando que a capital paulista tem pelo menos mil crianças fora da escola, conforme levantamento dos conselhos tutelares.

Secretário de Educação no governo de Franco Montoro, coordenador do programa de governo de Fernando Henrique Cardoso na campanha presidencial de 1994 e ministro da Educação durante os dois mandatos dos tucanos - quando criou mecanismos de avaliação do ensino como o Enem e o Provão -, Paulo Renato foi eleito deputado federal em 2006. É o terceiro secretário de Educação do governo Serra. Sua vaga na Câmara será ocupada pelo suplente José Carlos Stangarlini.

Após destacar os resultados já obtidos nas dez metas fixadas pelo governo Serra para a educação no início da atual gestão, Maria Helena atribuiu os avanços obtidos ao bom desempenho às administrações tucanas anteriores no Palácio dos Bandeirantes, mas enfatizou que "o Estado de São Paulo está sendo comandado com extrema competência por José Serra, um homem inconformado não apenas com os problemas de saúde e educação, mas também preocupado com questões macro. É alguém que trabalha sem parar por São Paulo e pelo Brasil". Ressaltou o "recorde absoluto na educação brasileira" o total de R$ 1,2 bilhão em investimentos na rede paulista de ensino, representada em 1,2 mil obras em andamento em todo o estado.

Paulo Renato usou parte do discurso para defender a troca de gestão no governo federal. "Sou daqueles brasileiros que ardentemente clamam por uma mudança de rumo em nosso país para elevar o padrão ético e republicano da nossa vida pública", disse depois de criticar o governo Lula. Apontou loteamento de cargos, aparelhamento do Estado e constrangimento a adversários pelo uso do poder de polícia. Ele voltou a repetir que o Brasil estaria melhor preparado para enfrentar a crise se o governo petista tivesse tomado medidas de política econômica preventivas.

A exemplo dos demais, que não mencionaram diretamente a pré-candidatura de Serra à sucessão presidencial - vaga que disputa com o governador Aécio Neves (PSDB), de Minas -, o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Barros Munhoz (PSDB), foi mais além. "Temos a sorte de ter um governador que um dia vai fazer pelo Brasil o que está fazendo pelos paulistas." Na mesma linha, o prefeito da capital, Gilberto Kassab (DEM), destacou que Serra, quando prefeito, eliminou as escolas de lata - construídas na gestão da petista Marta Suplicy na prefeitura paulistana -, e afirmou que o desafio daqui por diante é consolidar os avanços já alcançados nas metas de melhoria na educação fixadas no início da atual gestão tucana no Palácio dos Bandeirantes.

Após contar que há alguns anos dá aula para estudantes do ensino fundamental, pelo menos uma vez por semana, Serra disse que ontem foi "um dia bom para encontrar amigos e pela representatividade política que eles têm". Fez uma única referência ao governo federal, quando mencionou que o sistema de avaliação, adotado no governo FHC, embora combatido pela oposição à época, teve continuidade agora "por quem se apresenta como seus fundadores".

O presidencial tucano disse ainda que sua visão de educação passa pelo foco à aprendizagem e outros aspectos que dizem respeito "ao que está dentro da sala de aula". "Estamos até bem quanto ao resto, mas temos de avançar muito para melhorar o nível de aprendizado", acrescentou.

Quando questionado sobre o grande número de políticos presentes ao ato, Paulo Renato admitiu que "não foi só pela minha posse que eles vieram a São Paulo. Certamente o governador tem algo a ver com isso". "Temos uma aposta na administração do Paulo Renato. Ele vai dar uma boa ajuda ao governo de São Paulo, o que é importante para os tucanos do Brasil inteiro", disse a jornalistas Sérgio Guerra, presidente do PSDB, ao justificar sua presença no evento.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 12)(Liliana Lavoratti - Com Reuters)