Título: Integração contra o crack
Autor: Temóteo, Antonio
Fonte: Correio Braziliense, 25/03/2011, Cidades, p. 31

O Colégio Nacional de Secretários de Estado de Segurança Pública (Conesp) se reuniu ontem no Palácio do Buriti para selar um pacto de integração nacional de combate ao crime e, principalmente, ao tráfico de drogas nos 20 estados representados, mais o Distrito Federal. A intenção é de alinhar os procedimentos, as políticas nacionais e estaduais e a forma de execução das ações das forças policiais. Paralelo ao encontro, os secretários de Segurança Pública do DF, de Mato Grosso (MT) e de Mato Grosso do Sul (MS) também debateram a formalização de um termo de acordo interinstitucional que visa a troca de experiências, o intercâmbio de informações e a construção de práticas de gestão. O acordo deve ser firmado em um mês. Como o Correio antecipou ontem, a cocaína e o crack que chegam às ruas da capital são produzidos na Bolívia, entram no país por MS e MT e acabam refinados no Entorno.

O presidente do Conesp e também secretário de Justiça e Segurança Pública de MS, Wantuir Francisco Brasil Jacini, esclareceu que, por meio das discussões nas câmaras temáticas criadas durante o encontro, será possível ampliar a articulação entre os estados e desenvolver mecanismos eficazes para combater a criminalidade e o tráfico. Na avaliação de Jacini, a política de fronteiras com os países vizinhos precisa ser ampliada, pois as cidades que estão nesses limites sofrem o primeiro impacto do tráfico. ¿O Brasil é apenas consumidor. As drogas que chegam ao país passam por várias cidades. O combate já existe isoladamente entre os estados. O que se quer fazer é uma política de integração dentro de um alinhamento com o governo federal¿, afirmou.

Com a rota da cocaína traçada, as autoridades do DF pretendem identificar os chefes do tráfico e os pontos de distribuição. Para trazer a droga à região, o narcotráfico usa vários caminhos, mas a principal é por via terrestre. Até então, a polícia acreditava que o pó branco em circulação na capital federal seria boliviano, com o centro de distribuição em São Paulo. Análise do DNA, no entanto, revelou que ele é proveniente de Mato Grosso ¿ a fabricação do crack ocorre em laboratórios de Goiás. Para dar continuidade aos trabalhos, a próxima reunião do Conesp será em 12 de abril no Rio de Janeiro.

Força Na avaliação do secretário de Segurança Pública do DF, Daniel Lorenz de Azevedo, os resultados das investigações que definiram a rota do crack e a celebração do acordo entre os estados darão mais força às investigações. Além disso, policiais serão enviados a Mato Grosso do Sul e a Mato Grosso para estudar como funcionam as organizações dos traficantes. ¿Essa mesma busca de cooperação será feita com o estado de Goiás. Além disso, o perfil químico da droga que chega ao DF nos dá um posicionamento estratégico para as ações de combate e de repressão.¿

O governador do DF, Agnelo Queiroz, participou da reunião e considerou essencial a articulação dos secretários. Na avaliação dele, a ação preventiva é importante para os estados, pois, por meio da integração, informações são divididas e experiências, compartilhadas. ¿O combate ao tráfico de drogas não se limita a cada unidade da Federação¿, ressaltou.

MEMÓRIA Escalada no DF

Nos últimos três anos, o Distrito Federal foi invadido pelo crack. A situação tem sido denunciada pelo Correio há mais de dois anos, com flagrantes realizados no Setor Comercial Sul, na Rodoviária do Plano Piloto, no Conic, além de Taguatinga e Ceilândia. As primeiras apreensões do subproduto da cocaína feitas pela Polícia Civil do DF ocorreram em 2006, quando foram retirados das ruas 2,90g. Desde então, a circulação aumentou expressivamente. A polícia recolheu das mãos de traficantes e de usuários 562g em 2007; 4,3kg em 2008; 11,9kg em 2009; e 18,8kg até julho do ano passado.

A média mensal de apreensões até o primeiro semestre de 2010 supera em três vezes a registrada no ano anterior. O crack é conhecido por ter alto poder de destruição e por tomar o lugar da merla e da cocaína na capital do país, segundo estudo divulgado pela Polícia Civil do DF. A exemplo do Executivo federal, as forças de segurança do DF declararam guerra ao crack. No início do ano, o GDF fez uma varredura na área central da capital e prometeu políticas de repressão, associadas a ações de conscientização dos usuários. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, 1.559 flagrantes de venda de entorpecentes foram registrados em 2010, um crescimento de 35,2% em relação a 2009.