Título: Desemprego avança em março mas rendimento se mantém estável
Autor: Saito,Ana Carolina ; Assis,Jaime Soares de
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/04/2009, Brasil, p. A5
27 de Abril de 2009 - A inflação em queda e o aumento do mínimo ajudaram a manter o poder de compra do trabalhador. Com restrições ao acesso ao crédito, a renda tem sido destinada principalmente ao consumo de bens não-duráveis. Mas o brasileiro já dá sinais de que planeja voltar a adquirir produtos de maior valor, como eletrodomésticos, influenciado pelos inventivos fiscais.
A queda da atividade econômica levou o número de desempregados nas seis principais regiões metropolitanas do País a ultrapassar a casa de 2 milhões de brasileiros pela primeira vez desde setembro de 2007. Com um maior número de pessoas procurando emprego, a desocupação subiu de 8,5% para 9% entre fevereiro e março em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre.
Por outro lado, o rendimento médio real habitualmente recebido pelos trabalhadores permaneceu praticamente estável, passando de R$ 1.321,40 para R$ 1.323,86 na comparação mensal e cresceu 5% em relação a março de 2008. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a massa de rendimento real efetivo da população ocupada recuou 0,6% em relação a janeiro (0,6%), mas se manteve em alta em comparação com fevereiro de 2008, de 5,4%, patamar comparável aos níveis registrados em 2004 e 2007. "É um bom sinal. Isso pode ajudar a segurar o consumo, que não deve apresentar uma redução tão forte", diz o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Rogério Cesar Souza.
Segundo estimativas da LCA Consultores, massa de rendimento real, para o todo o Brasil, deve crescer 2,8% neste ano, resultado de uma alta de 1,5% na ocupação e de 1,3% do rendimento do trabalho. Em 2008, o crescimento da massa salarial foi de 6%, com avanços de 2,8% no rendimento e de 3,8% na ocupação. "A desaceleração da ocupação será maior do que a do rendimento. Só não deve ser mais intenso na massa salarial devido à queda da inflação e ao aumento maior do mínimo neste ano", afirma o economista Fábio Romão.
O cenário vem favorecendo principalmente o consumo de bens não-duráveis. Segundo a última pesquisa de comércio do IBGE, as vendas dos supermercados avançaram 5,6% em fevereiro sobre igual mês do ano anterior e sustentaram a alta 3,8% do varejo no período. Mas sondagem da Fundação Getúlio Vargas (FGV) já mostra crescimento no percentual de consumidores com planos de adquirir bens duráveis.
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) registrou elevação de 2,5% entre março e abril. De acordo com a Sondagem de Expectativas do Consumidor realizada pela FGV, o indicador passou de 96,1 para 98,5 pontos no período indicando uma reversão da tendência de queda dos meses anteriores, na série com ajuste sazonal.
O Índice de Expectativas (IE) da sondagem fechou com elevação de 5% e saiu de 95,4 para 100,2 pontos em abril, o maior nível apurado desde setembro de 2008. Entre os componentes deste indicador, se destaca o aumento do percentual referente a intenção de compra de bens duráveis nos próximos seis meses. O percentual de consumidores que planejam aumentar seus gastos com estes produtos subiu de 9,6% para 12,6%. A parcela que pretende apertar o cinto caiu de 38,2% para 36,9%. "A compra de bens duráveis é um reflexo das medidas que tem sido tomadas pelo governo como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis. Agora a diminuição do IPI para linha branca vai ter um impacto positivo para o consumo destes produtos" afirma a economista Viviane Seda Bittencourt, da Fundação Getulio Vargas.
Este comportamento contrasta com a avaliação negativa referente a situação da economia local. No período de março para abril, 7% classificaram a situação como boa, percentual inferior aos 7,3% de março. Os consumidores consultados que consideraram o quadro atual ruim se elevou de 52,7% para 53,6%. "A avaliação continua negativa em um cenário de previsões positivas", comenta Viviane.
A perspectiva de aumento da oferta de crédito, o reajuste do salário mínimo e as medidas do governo de incremento das atividades no setor da construção civil são fatores que o consumidor considera para o futuro próximo. Se estas ações se converterem em resultados concretos, as pessoas esperam que ocorra um aumento da oferta de emprego e da renda, avalia a economista.
Embora o desemprego tenha avançado de 8,5% para 9% de fevereiro e março nas principais regiões metropolitanas, o resultado pode ser considerado positivo diante do quadro adverso da economia nos últimos meses, na avaliação de Souza, do Iedi. "Não são os melhores níveis da série do IBGE, mas o impacto da crise no emprego está longe das dimensões da queda registrada pela indústria no final do ano passado. A deterioração no mercado de trabalho não foi tão grande diante da retração da atividade", afirma.
Segundo o economista, a alta de 0,5 ponto percentual não é tão superior à registrada em outros anos nessa mesma passagem fevereiro/março. Souza destaca o crescimento de 0,7% da População Economicamente Ativa (PEA) em março em relação a fevereiro, após quatro meses consecutivos de queda. "Isso é um sinal positivo, pode significar que mais pessoas estão buscando de uma ocupação, como, aliás, acontece regularmente nos meses de março", diz.
O economista do Iedi avalia, no entanto, que é difícil prever se essa resistência do mercado de trabalho se manterá nos próximo meses. A situação mais complicada é do emprego na indústria, que ainda não dá sinais mais consistentes de recuperação. Segundo o IBGE, "Mas o conjunto do mercado de trabalho mostra estabilidade", reforça.
Com uma queda interanual de 1,2% em seu estoque de mão de obra em março, o setor industrial foi o principal responsável pela desaceleração da taxa de expansão da ocupação em geral, de 1,4% para 0,9%, segundo a LCA. Em compensação, o conjunto de setores de serviços a empresas, administração pública, serviços domésticos, outros serviços e outras atividades; que representaram 57% do estoque total trabalhadores em março, manteve a alta de 1,6% de fevereiro.
"O pior em termos de fechamento de postos já passou, o que não significa uma retomada. A recuperação virá de forma lenta e gradual", diz Romão. Para os próximos meses, o economista prevê que a taxa de desocupação fique entre 9% e 9,5% até setembro. A partir de outubro, a tendência é de queda, em parte por fatores sazonais. A LCA projeta uma taxa média de desemprego no ano de 8,9%, contra 7,9% em 2008.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Ana Carolina Saito e Jaime Soares de Assis)